sábado, 22 de dezembro de 2012

Já faz tempo

Eu até começaria esse texto com uma suposição, com um “talvez aconteça desse jeito mesmo”, mas não vou. Não vou porque quero falar de uma coisa que tenho certeza, e você se engana se pensa que mudei o tema do que vou escrever só por isso. É que foi uma das várias formas que achei pra dizer que tenha certeza de tudo aqui embaixo.

A gente sempre espera que a vida vá nos surpreender, mesmo que não façamos nada para tal. Pode cair do céu, aparecer num sonho, surgir no meio da rua, te avistar em um parque, ou qualquer outra situação que você possa imaginar, por mais inusitada que seja. E o legal disso tudo, é que geralmente ninguém acerta como nem quando vai acontecer, muito menos o que vai acontecer.

Ele que sempre gostou dessa coisa de ser responsável, de levar o mundo nas costas, de aguentar todos os trancos e socos que recebe. Ele se viu sendo surpreendido mais uma vez, a vida veio lhe trazer mais uma responsabilidade: correr atrás da sua felicidade e da de mais algumas pessoas. Não que já não fosse dele, mas agora havia ficado maior.

Não pediu licença pra entrar – talvez já soubesse a resposta-, ela chegou virando tudo de cabeça pra baixo, passou, fazendo voar todos os papéis que estavam em cima da mesa, logo depois veio ajudá-lo a recolhe-los do chão e por ali ficou. Radiante, daquele tipo que sempre te surpreende, que faz você se sentir bem, se sentir vivo, com vontade e força de acordar bem cedo todas as manhãs, por que tem certeza de que o dia vai ser ótimo pelo simples fato de que  vão se falar e, quem sabe, se encontrar.

Se foi por um tempo, precisava voar, subir alto, perder algumas coisas de vista, alguns medos, ser mais ela e tornar-se invisível durante alguns dias. Voltou num rasante, com várias certezas e talvez algumas dúvidas, mas pouco se importava com as pequenas dúvidas. Nunca a vi tão decidida, nunca. Hoje ela está de novo onde quer estar.

E ele? Bem, se no começo foi diferente, foi mais ainda quando ela saiu voando sem dizer pra onde ia. Teve notícias no meio desse tempo; Se desanimou, talvez tivesse achado que ela havia esquecido o caminho de casa e que jamais iria voltar, lutou consigo mesmo até reconhecer o fato de que talvez fosse ter de esquecê-la.

E o que importa nisso tudo? Tudo. A experiência vivida, tanto as boas quanto as ruins, pros dois lados. Nada na vida é desperdiçado, tudo serve como aprendizado para alguém, ou “alguéns”, e dessa vez não foi diferente, pra ela, pra ele e pra quem mais estivesse envolvido.

E que bom é saber e dizer que os dois se gostam, se respeitam, se querem, se prometem, e existe confiança entre os dois. Que bom é saber e admitir que não sei de muitas coisas, nem tenho certeza de outras muitas, mas tenho de todas que considero importantes. Tenho certeza de que é você quem me faz feliz, que eu amo, que eu quero ver a barriga crescer por nove meses, que eu quero viver ao lado pra sempre, e tenho certeza de que sempre vou lutar pra conseguir. Por que “pra sempre” é muito tempo, mas adoraria passar todo esse tempo ao seu lado.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Auto-conhecimento

Ele pediu ajuda e ela disse:
- Você tem medo
E talvez aquilo fosse verdade, talvez ele tivesse medo mesmo. E tinha. Tinha medo de estragar tudo como sempre acha que sempre fez, medo de perder quem o faz bem e quem se deixar amar, medo de fazer tudo rápido demais, de planejar demais, de esperar demais, de ser demais. Medo de que tudo aconteça do jeito que ele teme, medo de que o presente imite o passado e se torne a pior parte dele.

- Mas você sempre sofre por antecedência, nem sabe o que vai acontecer!

E no fundo todo mundo sofre um pouco, todo mundo fica imaginando problemas onde não tem, e talvez comece a ter porque foram imaginados, talvez. Mas o fato é que ninguém que sofre por antecipação gosta de sofrer assim, aliás, não gosta de sofrer de jeito nenhum, ninguém.

Esse tipo de pessoa, que vive pensando, imaginando situações que nunca vão acontecer – ou vão –, que vive com essa agonia do lado esquerdo do peito. Esse tipo de pessoa talvez saiba tudo que deve ser feito pra não sofrer, e talvez até faça. O problema maior é a parte que não os deixa esquecer dessas pequenas inseguranças, desses passados tão presentes que os assombram, essa mania odiosa de achar que sempre vai dar errado sem nem saber o que, esse pensamento condicionado, que insiste em achar que nunca vai dar certo porque uma vez não deu.

Ele sempre se entregou de corpo e alma nos relacionamentos, talvez por isso seja assim, cauteloso? Cauteloso nem deve ser a palavra certo, medroso se encaixa melhor. Medroso, dramático, vítima, masoquista, quase um suicida que vai morrendo pouco a pouco, nas situações que ele próprio cria.

Vai lavar o rosto, dar dois tapas nessa cara, se olhar no espelho e espantar essas coisas ruins todas. Vocês são mais que isso, bem mais.

Não traia a si mesmo, não faça todas aquelas juras de amor caírem no esquecimento, não sangre até te baterem, não desista de você, nem dela, muito menos de vocês dois.

Agora vai, chacoalha essa cabeça, passa a mão no cabelo, levanta essa cabeça e engole essa lágrima. Vai embora, vai ser feliz, vai pensar menos, vai viver mais e aproveitar tudo isso. Vai pro céu e vê se esquece de vez o inferno, ele não é opção, ninguém faz ninguém feliz lá, e ninguém é feliz sozinho.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Queria que você soubesse

- Eu te amo muito.
- Eu também te amo muito.

Um beijo veio logo depois, mas não um simples beijo. Apaixonado, sincero, feliz, com sorrisos no meio, com a vontade que eles têm de se pertencerem, que durava mais a cada vez que os olhos se abriam e eles se enxergavam. Intenso, como tudo que envolve os dois.

O olhar dos dois se encontrava no meio de toda aquela paisagem e todas as coisas que aconteciam ao redor e poderiam tirar a atenção. Um repousava no outro, fixamente, não havia nada que o fizesse querer sair dali, que fizesse seus olhos desgrudarem dos dela.

Deitados na grama, debaixo de uma árvore, sem ver as horas passarem, sem se preocuparem com o tempo ou com qualquer outra coisa. Só uma coisa importava agora: eles estavam juntos, e não havia nada para atrapalhar.

Cafunés, sorrisos, risos, confissões, um abraço com a sensação de “você não vai sair daqui, e não vou deixar nada de ruim acontecer enquanto eu estiver por perto”, as pernas entrelaçadas, os suspiros, a respiração ficando difícil, o coração batendo forte. Eu perdido em você, sem a mínima vontade de querer me achar.

“Me leva daqui, foge comigo pra bem longe”, talvez fosse mesmo a minha vontade. Lembra que ficamos ali fazendo planos como se fôssemos mesmo casados? Imaginando nossa lua de mel, nossa casa, quantos filhos teríamos e como educá-los.

Desculpa ser direto sem saber se você está pronta pra saber. Sempre achei exagero ouvir as pessoas dizendo que não conseguem passar um dia longe de quem as faz bem. Talvez seja, mas é verdade que dói muito. Ainda mais pra mim, tão inseguro de tudo, involuntariamente procurando por brechas pra imaginar problemas que não existem, imaginando se você está bem e não precisa de mim a cada cinco minutos, sendo que no fundo eu sou o que mais precisa de ajuda.

Preciso de um abraço seu, dar um sorriso que só você sabe me tirar, do seu cheiro fazendo meu coração disparar, do seu toque fazendo cada parte do meu corpo ficar arrepiada. Preciso de uma dose diária de “eu te amo, meu amor”, mesmo não tendo dúvida nenhuma.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mutável

Eu sempre quis de ter tudo sob controle, cada ação planejada, no papel, prever três passos à frente. Gostava de rotina e acho importante, assim não somos muito surpreendidos e as coisas têm menos riscos de darem errado.
E aí, fugindo da rotina, saindo do planejado, indo contra tudo que eu acreditava, você apareceu. Entrou na minha vida sem pedir licença, se tornou uma das pessoas mais importantes dela, me fez perceber e sentir o que eu já nem sentia mais e posso dizer que, a partir de hoje, seu nome e “vida” tem o mesmo significado.
E nós somos assim, não é mesmo? Sem rotina, sem saber se vai dar, onde vai dar e onde vamos parar. Fazendo tudo que está ao nosso alcance para que dê certo, matando um leão por dia, vencendo uma guerra por noite – acho que essa é a parte mais rotineira em nós.
Queria ter você por perto todos os dias, pra nunca fazer a mesma coisa. Sempre te surpreender, te alegrar, te fazer bem, te amar de jeitos diferentes. Sim, parece rotina. Mas se a rotina for viver com você pro resto dos meus dias, sendo e te fazendo feliz, eu não me importo, nem eu um pouco.
Gosto quando nossos pés brincam, quando eles dançam, quando se enroscam e se encantam. Quando eles se tocam, se esquentam, quando são cúmplices. Gosto quando eles se amam.
Gosto quando não sei como fazer e nem se fazer, mas faço. Gosto porque sempre me sinto bem, me sinto leve, me sinto vivo e tocando o céu.
Gosto quando me sinto perdido, sem saber o que falar, sem saber como te olhar, me sentindo uma criança perdida no meio da cidade grande. Você chega, me pega no colo, faz todos os problemas desaparecerem, diz que tá tudo bem, e sempre fica.
Gosto de me sentir assim: trêmulo, indefeso, nu, sem ar, com as pernas bambas, com o coração palpitante e cada vez mais ofegante.
Gosto quando você me pede cuidado, pede pra eu não judiar de você, pra eu me poupar, pra eu não me preocupar quando seu sorriso insiste em desaparecer. Gosto de dizer que vou judiar um pouco, que não sei me poupar e que não sei não me preocupar com você.
Gosto quando meus braços te envolvem, quando sinto o melhor abraço do mundo, quando mal consigo me manter de pé, quando saio todo mole depois de todas essas sensações.
Gosto quando sua voz me invade, quando ela me conforta, quando me anima. Invade ditando as batidas do coração; conforta dizendo que tudo vai ficar bem; me anima dizendo que amanhã vai ser um dia melhor, que o sol vai nascer de novo, mais e mais bonito, trazendo boas notícias.
Gosto de saber que você é minha e vai ser pra sempre assim. Isso não é ciúmes nem obsessão, é só pra te lembrar vou sempre estar aqui, ao seu lado. Sempre te apoiando e lutando por nós, mesmo que o mundo se coloque contra.

domingo, 11 de novembro de 2012

Já tive minhas dúvidas

É tarde e alguém deveria estar na cama, né? Não se faça de difícil e nem seja teimosa, você sabe melhor do que eu você precisa dormir. Amanhã seu dia vai ser cheio.
Amor, vai deitar. Não precisa dormir porque vai deitar, é só deitar. Deita e fica pensando nas coisas da vida enquanto fala comigo, vai ser bom pra nós dois. Além disso, vai ajudar a fazer o tempo aqui passar mais rápido, já que insiste em passar bem devagar quando estou longe de você.
Deixa eu te ligar agora? Ouvir sua voz é tudo que preciso pra conseguir dormir. Ei, atende logo, não me deixa esperando muito, faz mal. “Alô? Amor?”.
Quanto dengo, tudo isso é sono? Que voz mole, voz que dá vontade de largar tudo só pra te ver. De ir pro seu quarto, te dar um daqueles abraços nossos, encostar seu tronco no meu e sua cabeça no meu peito, sussurrar algumas coisas bonitas no seu ouvido enquanto eu te faço um cafuné, esperar você adormecer só pra velar seu sono e dormir logo em seguida, sem sair de perto de você. Mas já que não posso, eu ficaria lhe fazendo algumas várias perguntas só pra você não dormir e dar algumas risadas com as respostas que o sono dá no seu lugar.
Tá tudo escuro, só a televisão ilumina. Eu aqui, perdido nos meus pensamentos, na sua voz que chega a mim através do telefone. Perdido nos meus sentimentos, tão bons, tão sinceros, talvez confusos. Mas não confuso de não saber se é bom ou ruim, é muito bom, é ótimo. É tão ótimo, e tão forte, que às vezes me faltam palavras pra te contar como eles são. E quer saber? Talvez eu nem precise, tenho certeza que você sente o mesmo.
Desculpa falar essas coisas, mas talvez seja pra você que eu queira levar café da manhã na cama, esperar a chuva passar debaixo do edredom enquanto a as gotas batem na janela e dão um som a mais pra música que estamos cantando. Talvez seja pra você que eu queira cozinhar todas as coisas gostosas que eu sei fazer e te mimar. Talvez seja com você que eu queria dividir alguns travesseiros. Talvez seja você que eu queira levar em um parque, esquecer da vida e ficar ali, deitado na grama pra ver as nuvens e segurando sua mão, de vez em quando eu a traria perto da minha boca pra beijá-la e te lembrar o quanto você significa pra mim. Talvez seja você que eu queira esperar no altar, perder o fôlego quando a música começar a tocar e te avistar vindo na minha direção. Talvez seja com você que eu queira trocar votos de fidelidade, um “na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, até que a morte nos separe”, talvez seja com você que eu queira escrever um novo conto de fadas. Talvez seja sua a barriga que eu quero ver crescendo e desmaiar de emoção quando chegar a hora. Talvez seja pra você que eu consiga dizer tudo que eu sinto no tempo certo, fazer tudo do jeito certo, mesmo que erre.
Talvez o último parágrafo esteja cheio de “talvez”, é só que parecia mais fácil escrever assim. Mas pra falar a verdade, eu trocaria todos os “talvez” por “com certeza é você”.
Com certeza é você que me faz feliz, que me faz sentir todas essas coisas boas que eu não sei nomear, que me acalma quando tudo parece desmoronar. Com certeza é por você que eu vou lutar.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Nem sempre precisa fazer sentido, basta acontecer

A campainha tocou e por algum motivo eu fui o único que escutou. Levantei pra ir até o portão com um frio na barriga e me preparando pra que talvez ainda não fosse a hora. Fiquei na ponta dos pés como sempre fico, pra tentar enxergar do outro lado da rua e assim, quem estiver na porta.

Uma mecha do seu cabelo foi o suficiente pra fazer o frio na barriga aumentar, o suor começar a escorrer e o nervosismo ficar mais intenso. Voltei pra pegar a chave e os batimentos cardíacos aumentavam à medida que eu dava os passos, cada um deles me dizendo que o tempo se aproximava, como se fosse mesmo uma contagem regressiva.

Coloquei a chave na fechadura, respirei fundo e virei. O tempo parecia não querer correr enquanto o portão se abria, parecia que ninguém queria me deixar te ver logo. Mas deixaram.

Não lembro se consegui respirar direito, se fiz cara de bobo ou o quê. Não pensei, não consegui falar. Minha boca travada não deixaria uma palavra passar, meus olhos se fixaram nos teus, meu corpo de abraçou e meus braços te envolveram. O tempo parou e nada mais importava naquele momento, eu tinha tudo que precisava na minha frente durante aqueles segundos que insistiram em passar depressa.

Ela estava ali. Uma das pessoas que se fez muito importante nos últimos tempos, a dona do melhor abraço do mundo, a razão dos meus sorrisos dos últimos dias, o motivo de muitos dos meus pensamentos e a responsável pelo turbilhão de coisas que mexiam comigo naquele instante. Ela estava ali, sentada, sorrindo, tímida, um pouco sem jeito. Linda, linda, linda.

Eu? Nervoso, me mantendo concentrado em outros assuntos, tentando manter a racionalidade em primeiro lugar pra não deixar as emoções tomarem conta de tudo, talvez até evitando a situação toda por não saber como lidar. Covarde, ingrato, seco, confuso, medroso, equilibrado. Me chame como quiser, me ajude a encontrar uma palavra pra definir isso tudo.

Agora ela está indo, pela mesma porta que entrou. Só que dessa vez eu não posso te abraçar. Me odeio e te peço desculpas por tudo isso ao mesmo tempo.

Eu vou ficar aqui por mais algum tempo. Talvez arrependido de algumas coisas, satisfeito com outras, pensando em todas as outras, mas, acima de tudo, muito feliz. Feliz porque nada foi como planejamos, e sei que se tivesse dado tudo certo não seria tão bom como está sendo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Talvez não devesse dizer

Achei que depois daquela outra, eu nunca mais me sentiria assim, a gente nunca acha. Parece que se não deu certo uma vez, nunca mais vai dar.  E sabe? Talvez eu não quisesse mesmo. Talvez fosse bom dar um tempo, cuidar de mim, das coisas ao meu redor, tirar a poeira de tudo, chacoalhar o corpo e colocar a cabeça no lugar. Talvez fosse, mas a gente nunca escolhe esse tipo de coisa, nunca somos consultados por ninguém, e quando vamos ver, já não tem mais volta.

Por mais que você diga que sou difícil de decifrar, sei que já deixei tudo nas entrelinhas. Na minha voz quando falo com você, no meu sorriso bobo quando a resposta some, no meu olhar pensativo quando olho uma foto sua, na minha inquietação quando estou longe de você.

Longe e ao mesmo tempo tão perto, sempre me surpreendendo, atenciosa, instável, tímida, carinhosa, tão você. De um jeito que só você sabe ser, de um jeito que só você faz eu me sentir.

Talvez todo esse receio em me permitir fosse medo. Culpa dessa mania de sempre esperar o pior das pessoas, só pra me defender, desse jeito covarde só meu, desse pessimismo de achar que sempre vai dar errado e que nunca vou conseguir fazer alguém feliz o bastante. Logo eu, que sempre disse que viver com medo de ser feliz não é viver, logo eu, que sempre fui crítico de amigos que nunca se permitiam. Logo eu, me peguei pensando em você.

Sabe? Está sendo ótimo, nunca me senti tão vivo, tão disposto, tão preparado pra enfrentar tudo, tão esperançoso, tão eu. Não sei que nome dar para isso, apenas sei que é bom e que quero me sentir assim pro resto da minha vida se for possível. Desculpa ser direto assim, mas talvez esse seja meu desejo por saber que preciso de você pra isso.

Se me perguntassem há alguns dias atrás, eu bateria o pé no chão pra dizer que não, negaria com todas as minhas forças como já fiz, mudaria de assunto só pra não pensar nisso e não aumentar minhas dúvidas. Não iria me permitir, não por você. Mas sou fraco, e se quer saber:  ser fraco foi uma das melhores coisas que fiz na vida.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Engasgado

Eu queria muito dizer que te amo e não estar mentindo, assim como eu queria ouvir você dizendo que me ama sem se preocupar em estar enganando alguém. Talvez por isso tenha acabado.

A verdade é que nenhum de nós jamais soube dizer um dia se era mesmo amor, aliás, não estou certo de que já sentimos isso alguma vez, por um alguém qualquer.

Não sei quanto a você, mas “te amar” sempre foi como mergulhar em uma piscina vazia rezando para que a chuva caísse, foi como estar vendado numa sala escura, esvaziando o pente de uma PKP Pecheneg e torcendo pra não acertar ninguém.

Mas lembra de todos aqueles momentos que passamos juntos? É claro que você lembra. Pois é, tentei recriá-los. E sabe? Eles foram feitos para dois, no caso, nós dois. E não é que eu queira reviver nenhum passado, muito menos cutucar uma ferida que ainda esteja cicatrizando, mas eu quero muito ver você, muito.
Pensei que aquelas doses que tomei no bar em que nos conhecemos serviriam pra me fazer te esquecer, ledo engano. Você está lá todas as vezes, nunca pessoalmente, mas ainda assim consigo te sentir, talvez mais do que se estivesse olhando no fundo dos seus olhos. Além de não te esquecer, elas me ajudam a criar coragem pra vir atrás de você e contar tudo que se passa aqui dentro.

Agora anda e abre a porta como você fazia. Não quero buzinar e acordar seus vizinhos, e está muito frio pra ficar parado na frente da sua porta, torcendo pra que você abra, nem que for pra fechar logo em seguida.

Me deixa entrar, a gente senta pra conversar madrugada a fora e eu mesmo preparo o café se você quiser. Eu espero que você tenha notado que eu continuo “te amando”, e agora prometo que estou disposto a te amar, sem medo nenhum. Eu nunca fui o cara certo pra você, mas estou longe de ser o errado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não uso capa

Eu ando sozinho por uma rua que desconheço o nome, raramente sei onde estou indo e até prefiro que seja assim, Não trago comigo quem eu amo nem quem não amo, é sempre mais seguro que eles fiquem onde estão.

Tenho síndrome de super-homem e acho que sou intocável, indestrutível. Não aguentaria ver alguém machucado por menor que fosse o trauma, não aguento a sensação de impotência que tenho quando chego tarde demais ou quando estou na hora certa e não posso fazer nada. Isso me corrói de dentro pra fora. Sei que sangraria por todos os poros se tivesse culpa pelo sofrimento de alguém, muito por isso ando só.

Minha sombra insiste em me acompanhar. Só permito quando ainda é dia, - pois a noite é sempre perigosa – e ainda assim dou condições: que ela ande sempre atrás de mim, assim posso protegê-la. Se ela insiste na teimosia e fica ao meu lado, mudo de rota e escolho uma mais segura.

Sei que alguns heróis tiveram seus escudeiros – e acho inclusive que ambos merecem essa menção honrosa -, mas não sou um deles. Não quero ser chamado de herói, aceito alguns me chamando de louco e os mais próximos de egoísta, mas não herói. Não mereço, não faço nada demais, aliás, faço apenas o que acho que devo: minha obrigação.

Não tenho certeza se isso se chama coragem, como alguns dizem. Acho que está mais pra covardia, egoísmo e medo. Egoísmo de não entender que as pessoas também me amam e não concordam com o meu comportamento. Covardia por correr de alguns desafios que encontraria e medo de perder alguém e me culpar pelo resto dos meus dias na Terra.
Desculpem-me por ser assim, mas é isso que sou agora. Juro estar onde estiverem, mas, por favor, não me sigam. Juro aparecer sempre que precisarem. Desculpem-me se por vezes demoro a ouvir alguns chamados, é que não posso olhar apenas para um me esquecer dos demais. Talvez você não tenha nem me chamado e talvez nem me queira por perto.

Eu estarei lá. Mesmo sem saber voar, ter uma identidade secreta, uma cabine telefônica e sem usar uma capa.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Perdido por aí

Eu estava lá, sentado num banco de ônibus, olhando todos que passavam por mim. Meus olhos não faziam questão de segui-los, a menos que algo realmente gritante os puxasse. Minha cabeça? Perdida nos pensamentos que nunca terminavam e sempre puxavam outro e mais outro pra perto deles. Mais uma daquelas longas e às vezes vazias reflexões sobre a vida, sem nada a perder e sem muita coisa e ganhar.

Vi uma mulher usando apenas um lenço na cabeça e pude notar a falta de cabelo, câncer talvez. Ela não parecia nenhum pouco triste ou abalada com a sua situação. Vi um executivo bem vestido secando suas lágrimas com a gravata que não repousava mais em seu pescoço, sua maleta aberta, deitada, e os papéis voando pela rua. Ele já nem parecia mais se importar, talvez nada mais fizesse sentido. Vi um morador de rua sorrindo, seus olhos estavam grudados num desses panfletos que sempre nos entregam e depositamos na primeira lixeira que vemos. Sua cabeça alternava entre o panfleto e um caderno que estava apoiado em uma de suas coxas, e enquanto isso, a mão esquerda corria de um lado para o outro anotando alguma coisa. Mas não, ela não segurava nada que pudesse marcar o papel.

Vi mais um morador de rua, ele conversava com uma mulher parada no ponto de ônibus que parecia realmente interessada. O que mais me incomodou foi o modo como as outras pessoas olhavam para ela, algo como “o que ela está fazendo com esse traste? Ela ficou mais maluco do que esse outro?”

Vi muitas coisas que já me cansei de ver, vi outras que nunca tinha visto, e outras talvez nunca volte a ver. Envergonho-me de dizer que julguei cada uma delas exatamente do jeito que muitos julgariam. Por que uma mulher com câncer teria motivos para sorrir? Por que um executivo bem vestido tem motivos para chorar? Ele deve ter tanto dinheiro. Onde um morador de rua arruma motivos para sorrir, sendo que todos o excluem e passam por ele como se não existisse vida ali? Por que essa mulher dá atenção? Ela deveria se juntar ao resto e ter vergonha de si mesmo. Ou talvez não.

Talvez a mulher com câncer esteja feliz porque teve uma ótima vida, ou por qualquer outro motivo que a faça sorrir – se é que está num estágio avançado da doença, ou se é que tem mesmo câncer. Talvez o executivo esteja com algum problema que o dinheiro não resolva – tem gente acreditando mesmo que o dinheiro é a solução pra tudo. Talvez esse morador de rua nem seja mesmo morador de rua, talvez ele nem saiba o que está fazendo, talvez saiba. Talvez essa mulher queira ouvir o que ele tem a dizer, talvez ela se identifique. Ela tem seus motivos, aliás, todos têm. E eu não quero conhece-los, só se eles quiserem que eu os conheça.

 Pelo menos serviu de algo. Redescobri algo que já tinha descoberto: se muitas vezes nem nós mesmo nos reconhecemos, como posso ter a audácia de achar que conheço profundamente cada pessoa do mundo? Simplesmente não posso e não devo.

Tantas pessoas passando, tantas histórias. Gostos e cicatrizes carregando tanta coisa com elas. Quem sabe de suas lágrimas e sorrisos? Seus êxitos e fracassos, suas conquistas e decepções? Talvez nem elas mesmas saibam. E no final, não somos ninguém para julgar qualquer um que nos rouba um pouco de atenção.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Nublado

Daí a campainha tocou, mas eu já esperava. O porteiro tinha avisado que você chegara e eu, autorizado sua subida. Era mais uma dessas noites frias de São Paulo, nublada, cinza, carregada de sentimentos diferentes em cada esquina da metrópole, em cada mesa de bar, em cada grafite na parede, em cada alma que estivesse por ali.
Abri a porta e lá estava você, parada na minha frente, olhando pro chão esperando a porta abrir. Nossa! Como você é linda. Eu não sou de reparar nessas coisas até mesmo porque eu não entendo, mas você fez alguma coisa no cabelo, não fez? Eu até queria ficar te olhando aqui na porta do meu apartamento, torcendo pra algum vizinho passar e parar pra falar comigo, quem sabe eu não tomasse coragem pra te apresentar.
Te seguro pela mão, te levo até o sofá e te sirvo um cálice de vinho. Sabe? Eu nunca liguei pra essa coisa de safra de vinho, mas fiz questão de me informar sobre essa só pra te impressionar.

Fui à cozinha ver o forno e descobri que o que eu estava preparando pra nós passou do ponto. Vem cá, vamos cozinhar algo juntos então. Piadas bestas, risos sinceros, paqueras entre eles e eu pensando que você também fica linda de avental e suja de farinha.
Mais um pouco de vinho, eu, você e o sofá. Conversas, risadas alteradas e um desejo ficando cada vez maior. Eu sem saber o que fazer e quando fazer, nunca fui bom nessas coisas, e fica mais difícil agora com você fazendo questão de esconder seus sinais, ou talvez eu apenas não saiba interpretá-los. A taça pulou da sua mão pra mesa de centro, você passou por cima de mim e me beijou. Mais e mais vinho – mesmo que a ressaca nos castigasse -, menos e menos roupa. O sofá, a sala, o chão, a cozinha, o quarto.

A garrafa de vinho com bem menos da metade, a cama bagunçada, algumas peças de roupa, e seu corpo, envolto num fino lençol branco que deixava suas costelas à mostra. Essa foi a última cena que vi antes de adormecer. Acordei com a cabeça latejando e descobri que não havia sido um sonho, vi seu rosto repousando sobre o travesseiro e continuo achando que você fez algo no cabelo.

Pensei que talvez fosse melhor levantar e arrumar um pouco a bagunça que tínhamos feito, fui mas voltei pra cama assim que a dor de cabeça apertou, talvez deitar e ficar um tempo quietinho fosse bom. Acabei caindo no sono de novo.
Acordei com seus lábios no meu e com seu “bom dia” assim que percebeu meus olhos se abrindo, “bom dia, meu amor”. Talvez eu devesse levantar, preparar o café, pegar um remédio pra você e trazer tudo aqui na cama. Talvez eu devesse ficar aqui com você, sentindo o calor do sol que entra pelas frestas da janela dando um tom dourado à sua silhueta e ver meu sorriso refletido nesses seus olhos de jabuticaba. Mas sabe? Eu quero ver como você fica linda andando descalça e usando só a minha camisa por esses corredores que agora também são seus.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Quero ver onde isso vai dar

Tudo começou com uma troca de telefones e um “me liga qualquer coisa”, assim descompromissado, sem obrigações, pronto pra atender sempre que a vontade e a carência resolvessem fazer uma visita juntas. E sabe? Está sendo bom assim porque está dando certo, já faz algum tempo que levamos desse jeito, feito dois adolescentes inconsequentes, como eu digo, ou como dois adultos maduros que conseguem manter a relação sem sentimento, como você diz.

Acho que tá na hora de abrir o jogo se for assim, digamos que eu não sou tão maduro quanto você pensa. Calma, me deixa terminar de explicar antes de você me interromper. É que a simples vontade e atração se transformaram em carinho naquela viagem. Não dava pra ficar só nos beijos e no sexo, então você começou a me contar sobre seus medos, suas lágrimas, seus sonhos e eu fui te admirando cada vez mais, e até imaginando como te ajudar com cada uma dessas coisas.

Relaxa, eu me conheço e sei que o que estou sentindo não é forte o suficiente pra cometer essas loucuras que estão passando na sua cabeça, digamos que nesse ponto eu sou maduro o bastante pra não me permitir.

Eu só não vou acreditar quando você chegar em mim daquele jeito que você sempre faz, meio desajeitada, com o cabelo solto e bagunçada, der um suspiro antes de começar a falar... Não garota,  eu não vou acreditar quando você disser que seu lance comigo continua sendo só atração, só diversão e prazer, que está comigo só enquanto não acha o cara certo.. Talvez não seja proporcional ao o que eu estou sentindo, é verdade. Mas mim ficou bem claro que você sentia algo naquele dia em que fomos ao cinema e encontramos suas amigas naquele barzinho. Você foi ao banheiro com uma delas, conversaram algumas coisas enquanto ainda estavam longe da mesa e quando sentou, eu vi que tinha algo diferente no modo como você me olhava. Desde esse dia eu venho criando coragem pra mudar o que nós temos e contar logo tudo isso. Consegui.

Não foge, não desvia o olhar, não tenta mudar de assunto porque você nunca age assim. Olha, se você quiser acabar tudo por aqui pra não correr riscos, tudo bem, eu te entendo. O máximo que vai acontecer é eu colocar algumas músicas de fundo, fixar o olhar no nada e ficar pensando na vida, às vezes em você.

 Agora, se você quiser correr esse  risco sem medo de ser feliz, nós vamos. Levo-te pra ver as estrelas, pra deitar na grama e ver as nuvens ou até mesmo pra deitar nas nuvens e ver a grama. Numa festa de família quem sabe?
Desculpa se te assustei, é que fico feliz por conseguir te contar essas coisas e mais feliz ainda por ver esse seu sorriso tímido quando te contei sobre os meus planos. Mas tudo bem, vamos devagar como sempre fomos.

Você nunca gostou de compromissos pelo que te conheço, então vamos mudar os termos: não estou apaixonado por você. Só estou feliz ao seu lado e quero muito ver onde isso vai dar.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Deixa eu te ensinar o que sei

Daí você me olha com o rímel borrado, dizendo não querer mais, que tudo está diferente e que está perdida, precisando de um tempo pra se encontrar. Olha garota, francamente, se alguém devia estar confuso aqui, esse alguém sou eu. Primeiro você diz todas aquelas coisas que você sabia me fariam bem ouvir. Agora vem com esse papinho manjado? Ainda bem que usei “garota” ao invés de “mulher”.

Chega de críticas, talvez você não mereça, mas deixe-me tentar te ajudar. Não tenho muita experiência nesses trabalhos como conselheiro, sempre fui um traste ajudando meus amigos em suas decisões amorosas. Vai ser bem mais difícil agora que eu estou envolvido, mas acho que vale a pena tentar, é o mínimo.

Se você não tivesse pedido esse tempo hoje, acho que não demoraria muito até que eu criasse coragem pra pedir primeiro. Algumas coisas em você tem me causado um certo incômodo, por mais que eu estivesse relativamente satisfeito com nós dois. Você me passa a sensação de estar presa a algumas coisas do passado, estou certo? Olha, eu peço desculpas em nome de todos os homens por aquele outro ter sido tão ruim pra você, definitivamente tu não é o tipo de pessoa que merece sofrer por amor, aliás, ninguém merece. Só que olha, a população mundial não tem de pagar pelos erros que cometeram com você, não deixe suas frustrações do passado lhe privarem de tentar ser feliz agora e de ter um futuro melhor.  Talvez seja difícil, mas você é a única pessoa no mundo que pode tomar essa decisão, cabe a você e somente a você fazer algo a respeito. Eu e o resto do mundo apenas podemos assistir, e os mais atrevidos, tentar lhe ajudar.

Hoje eu falo naturalmente porque já dei muita cabeçada no passado, sofri bastante, não pense que é privilégio seu. Todos sentimos de vez em quando, uns com mais frequência é verdade, mas dói pra todos, essa dor é bem democrática.

Desculpa se falei alguma bobagem, ou algo que você não estava pronta pra ouvir. Só achei que alguém precisava fazer você enxergar a verdade, e no momento me achei a pessoa mais capacitada para essa árdua missão, ainda que tenha minhas limitações com conselhos. Espero que você fique bem, de verdade.

Vá garota, se ainda pensa que precisa de um tempo pra se achar, vá. Leve consigo essas palavras que lhe dei de presente e os momentos que vivemos, pense se baseando neles e talvez o caminho seja mais curto. Mas volte, ficarei feliz em saber que fui útil pra você, que marquei sua vida e não servi apenas pra tirar sua carência que ficava maior nos fins de tarde. Deixa que eu arrumo um outro fim pros planos que fiz pra nós, talvez eu os jogue fora, talvez os guarde para quando você voltar, ou talvez eu os apresente para outra, torcendo pra que ela já tenha se encontrado e goste dos meus planos.

Uma última coisa: a chuva cai com frequência, às vezes decidimos tomar um banho nela, sem muitas pretensões, e em algumas raras vezes, damos a sorte – ou o azar – de pegar um resfriado. Não acontece diferente com o amor.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Eu te disse

Eu podia, até gostaria, mas sei que não deveria soltar aquele clássico “eu bem que te avisei”. Só ia servir pra aumentar ainda mais a sua fúria, além disso, você já deve ter aprendido a nunca mais duvidar de quem só quer seu bem.

Você lembra, desde o começo fui contra esse relacionamento, disse que o cara não valia o chão que pisa, não por ciúmes nem nada, mas porque conheço a raça. Típico galanteador, se aproveita da fragilidade das suas futuras vítimas e depois as deixa por aí, com o coração sangrando.

Não queria te encher com todas essas duras verdades, mas vou, podem servir de reforço caso você venha a considerar a chance de cometer o mesmo erro novamente. Olhe pra você garota, o mundo te sorri sempre e você deixou de retribuir esse sorriso já faz algum tempo, sempre acreditamos no seu enorme potencial, no brilho do seu futuro e em todas as contribuições que seu trabalho trará para a humanidade. Ai você se deixou atrapalhar por um cara que não quer nada com a vida.

Você sabe que não quero bancar o pai e nem a babá, mas às vezes sou forçado a cumprir esses papéis, amigos fazem essas coisas né? Eu sei que sim, e faço com o maior orgulho, sem reclamar em nenhum instante. Só que mais importante que te consolar e secar suas lágrimas, é te preparar pra secá-las com as próprias mãos, usando o próprio lenço, pois por mais que eu queira e tente, infelizmente não vou poder monitorar cada passo da sua vida. Também tenho a minha vida pra tocar.

To acostumado com seu jeito instável e ao mesmo tempo responsável, cabeça dura, é difícil te fazer enxergar que está errada, sempre foi. E logo você foi cair na lábia desse carinha, logo você que vivia ajudando suas amigas meio perdidas na vida, logo você, tão centrada e pé do chão.

E não adianta me olhar com essa cara teimosa, querendo que essa lição de moral acabe logo. Vou ficar falando até achar que consegui colocar um pouco de consciência nessa cabeça, e vou fazer um discurso mais longo a cada vez que você fizer outra burrada e largar o coração na mão de um filho da puta desses. No fundo você sabe que falo pro teu bem, e sei que até gosta de ouvir.

Agora anda, vem cá ganhar um abraço e enxugar essas lágrimas, não deixe elas mancharem seu sorriso, ele é lindo. Vai voar, mas não suba muito rápido e nem vá muito longe, pelo menos não por hora. Suas asas ainda estão feridas e não vão aguentar te guiar através de outra tempestade tão cedo. Acredita em mim, tenho experiência quando o assunto é cuidar de você, e quem está de fora vê melhor.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Não consigo mais levar desse jeito

Ei, espera. Não, não faz assim, não torne as coisas mais difíceis do que elas já estão. Não me olha com esses olhos cheios de água, eles insistem em me lembrar de tudo que passamos. Ninguém tem culpa disso estar acontecendo, só estou fazendo agora o que um de nós teria que fazer daqui a algum tempo. Toma meu lenço, enxuga essas lágrimas todas, você não fica bem desse jeito.

Já faz algum tempo que as coisas não tem mais dado certo. Você anda implicando com o meu jeito de andar e eu, por birra, com o seu jeito de espirrar. Não vamos conseguir ficar duas horas juntos sem que uma discussão aconteça, por mais bobo que seja o motivo.
Não é mais a mesma coisa do começo, eu mudei sabe? Sei que você não percebeu, por isso mesmo eu estou te dizendo. Preciso de uma companheira ao meu lado agora que as coisas estão pra ficarem mais difíceis, e não de alguém que só vem me esquentar nas noites frias.
Garota, você continua sendo a mesma desde aquela tarde, já conversamos várias vezes sobre isso e de nada adiantou, por que você pensa que eu acredito que dessa vez vai ser diferente? Te conheço muito bem, sei que não vai acontecer nada, também me conheço e sei que não vou conseguir aguentar isso.

Eu mudei, talvez pra pior no que diz respeito a nós, não sou mais aquele cara por quem você se apaixonou. Não lembro qual foi a última vez que te dei flores, estou te devendo uma música tocado no meu violão até hoje e já faz algum tempo que não lhe dou sua dose diária de “eu te amo.”

Não prometo que vou continuar sendo seu amigo. Lembro de todas as vezes que prometi isso no fim de um relacionamento e não cumpri. Também não prometo que você será uma exceção, prometi pra aquela outra e você bem sabe que eu não cumpri.

Mas posso prometer que você será feliz, que um cara legal vai te encontrar em uma rua qualquer, em um dia ensolarado qualquer e vai se encantar pelo seu sorriso, exatamente do mesmo jeito que eu me encantei. Só que dessa vez o final vai ser feliz.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

E quanto ao final?

Era uma noite fria, típica de um final de outono e quase começa de inverno. Lá estava nosso herói, sentado no último assento do lado esquerdo do ônibus, sem se importar muito com o barulho das portas que se fazia necessário com o entra e sai dos passageiros. Nada muito reflexivo lhe vinha em mente apenas observava a conhecida paisagem que tem o poder de sempre surpreender, afinal, sempre muda. Tudo muda.

Ele subiu tanto que seu corpo se descolou do banco, o ônibus havia passado por uma lombada em alta velocidade, e quem está no fundo sempre sofre mais com essas situações. Foi um chacoalhão, lembrou que buscava inspiração para algo, andava meio distraído ultimamente, sem viver muitas emoções ou fazer coisas novas. Despertou do seu quase transe e passou a observar através da janela de forma mais crítica. O que havia acontecido mais cedo? Bem, as pessoas sempre nos surpreendem, seja de forma positiva ou não. Lembrou-se de uma cena passada pela manhã, não apostaria dez centavos na bondade daquele homem no metrô, pois bem, esse mesmo homem deu seu lugar a uma senhora. Depois de ver aquela cena, percebeu como errou, errou em tê-lo julgado e em julgá-lo errado.  Mais ainda lhe restou um sorriso que apareceu quando se deu conta que foi surpreendido, que essa não foi a primeira vez e não seria a última.

Havia achado inspiração. Reconheceu que a culpa não era da vida que estava lhe pregando peças, não era a vilã da história, ele é que não estava vendo as coisas de uma forma correta, não estava sabendo aproveitar cada momento, visão ou gesto. Tinha esquecido como as pequenas coisas da vida são as mais belas e às vezes as mais importantes.
Chegou em casa, admirou seu tempo e foi grato, passar por aquela calçada havia se tornado tão banal. Lembrou-se dos tempos de infância, as risadas com gosto de Tubaína e cheiro de salgadinho sabor cebola, o sangue no asfalto durante o futebol de rua, pois alguém sempre chutava o chão, os restos das bexigas cheias de água que estouravam e levavam embora o calor das tardes de Julho.

Abriu a porta e viu uma folha, logo pegou um lápis e se sentou em uma cadeira. Já que estava se sentindo tão vivo, por que não tentar a sorte escrevendo algo? Sua mão segurava firma aquele pedaço de madeira enquanto o grafite escorria por toda aquela imensidão branca. As riscas da folha ditavam os passos daqueles “ballet”, um giro aqui, outro ali, “vamos para a linha abaixo”, “desvie dessa lágrima ou vai borrar”, “um pouco de borracha aqui”.

Foi escrevendo sem se importar com o tempo, sem se importar com o cansaço ou com a fome, Ele estava criando e nada podia impedi-lo, há muito tempo esperava por um momento como aquele. A mão já cansada deixou o lápis cair, restos de borracha pela mesa e pó de grafite na palma de sua mão. Um texto nasceu.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Talvez seja incansável

Você não cansa de carregar o mundo nas costas todos os dias? É sério, não precisa adotar essa postura forte pra sempre, evitar fraquejar, tentar mostrar que é forte, intocável e que não tem seus defeitos, todos temos. Afinal você também é feito de carne e osso.

Esse negócio que você tem de se preocupar com todos ao seu redor, com a paz mundial e com um passarinho que quebrou a asa. No fundo eu até queria ser mais assim, sabia? É que não da pra vestir uma capa e sair voando pra socorrer alguém todas as vezes que algo der errado, por mais que esteja atento, não é sempre que você vai conseguir evitar uma tragédia. Na verdade as pessoas precisam disso, de quebrar a cara de vez em quando, de caminhar com as próprias pernas e de cair porque não havia ninguém para segurá-las.

Esse seu lance de guardar seus problemas no bolso (os poucos que admite ter) e ir cuidar dos problemas de quem precisa, eu acho honroso. Só não esquece que se te baterem você sangra, e que seu sangue também é vermelho.

Mas olha, você ainda pode passar Merthiolate no joelho ralado das pessoas, elas vão precisar de alguém que ouça as histórias todas. Sem julgamento, sem “eu te avisei”, sem nenhuma dessas coisas que sabemos ser verdade e que doem, sem nenhuma dessas coisas que não se fazem necessárias no momento. Apenas um estoque de conselhos, alguns abraços, um lenço pra secar essas lágrimas que vão caindo e um “relaxa, tá tudo bem, tudo vai ficar bem”. Bom, você sabe mais sobre isso do que eu.

Só me promete se importar um pouco mais com os seus problemas tá? Eles podem até ser pequenos, mas podem ficar maiores se você ignorá-los. Se cuida, o mundo precisa de mais heróis como você.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Eu precisava te dizer

Tenho essa minha cara de mal e carrego uma certa fama de “cara frio que não se apaixona por ninguém”. Sei lá, sempre achei besteira esse tal de amor, vejo casais brigando por aí, depois eles terminam e sofrem, às vezes voltam e depois sofrem mais um pouco. Essa coisa não é pra mim.

Pra que arrumar alguém pra ter que dar satisfação, ficar grudado, dar bom dia, boa tarde, boa noite e todos os outros “bons” que temos por ai? Pra que correr o risco de sair machucado de um relacionamento? Ser livre é bem mais vantajoso, sem obrigações.

Mas aí você apareceu, né garota? E de vez em quando eu me pergunto como você fez tudo isso. Como me transformou no que sou hoje?

Lá estava você, como quem não quer nada. Jogando conversa fora junto com suas amigas, rindo à toa. E eu estava lá, tentando entender o que estava sentindo. Se pra uma pessoa normal já é difícil entender essa coisa de amor à primeira vista, imagine pra mim, um cara meio fechado e nada carinhoso.

Nos conhecemos, tivemos nosso primeiro encontro (sempre achei clichê falar assim, “encontro”) e tudo ia bem. Comecei a entender esse negócio que os outros falam, que sentimos borboletas no estômago quando estamos perto de quem gostamos, e vou confessar, ou minhas borboletas são bem grandes, ou elas usam asa-delta.

Bem, obrigado por entrar na minha vida, por me fazer acreditar num sentimento mais forte, por me fazer o homem mais feliz do mundo e permitir que eu tente lhe fazer o mesmo. Desculpa o meu jeito, mas pra um cara que não acreditava em amor, até que eu to me saindo bem. Aliás, o cara que não acreditava no amor escreveu essas coisas todas ai em cima, por que foi o jeito mais fácil que ele encontrou pra dizer que te ama.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sem falsas juras de amor, por favor

Por favor, tome cuidado.  Quando alguém confia em você, raramente pensa se o que foi dito é verdade ou mentira, só acredita sem medir as consequências.  Bom, pelo menos eu sou assim, e duvido muito que seja o único.
Tudo bem, talvez eu tenha culpa e talvez ela seja maior que a sua.  Culpa de ter sido rápido demais, de ter tido medo de te perder, culpa de não dar um sorriso mais bonito naquela tarde, culpa de ter me permitido, culpa de ter conhecido.  Mas ao mesmo tempo, acho que são coisas que acontecem pois tem que acontecer, ou talvez que aconteça por vontade de um ser superior.

O começo não foi fácil, o primeiro “oi” foi custoso, o primeiro abraço nem se fala.  E quem disse que o fim não seria pior.  Sempre é.  Você foi até legal. Foi mudando, meio que dando sinais de que o fim estava próximo, eu percebi (qualquer um perceberia), mas preferi não pensar, não encarar os fatos, dizem que a esperança é a última que morre.
No meio disso tudo, trocamos várias juras de amor, parece que de nada valeram.  A primeira vez que ouvi seu “eu te amo”? Ótimo, fui dar uma volta no Olimpo e voltei, disse que também te amava é claro, mas depois pensei que poderíamos ter ido com mais calma. Tá vendo? Muita culpa é minha.

Mas espera! O nosso fim ainda não teve fim, pelo menos aqui no papel.  Até ele foi conturbado, estranho como tudo que aconteceu entre nós, uma linha telefônica e cada um de um lado, “eu não quero mais” chegando aos meus ouvidos, sendo processado, confirmando tudo que eu já sabia, e mesmo assim senti um frio na barriga quando você disse mais cedo que precisávamos conversar.  Eu tentei nos salvar, juro.  Mas já era tarde, até era noite, e você tinha prova no outro dia, “boa noite”, e eu continuo me preocupando com você.

O quarto ficou ainda mais escuro, mesmo com a TV ligada e mudando o jogo de cores das paredes.  Minha cabeça uma bagunça, queria dormir e não conseguia, queria ouvir músicas que me lembrassem você, não valia o esforço.  Acho que pra você foi mais fácil, parecia calma, suave e decidida, me pediu tantas desculpas que parecia alguém se desculpando por não poder mais fazer um favor.

Se você nunca sentiu algo, como disse que sentiu, se eu nunca signifiquei nada, como acho que não se suas juras foram verdadeiras, pouco importa agora. Façamos assim: você finge que se importa e eu finjo que acredito.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O primeiro...

Nada mais justo do que estrear o blog com o texto que considero ser o estopim de todo esse movimento. O primeiro texto que produzi com um desejo mais sólido de escrever um livro, que foi alvo da crítica e que me trouxe aqui. Bom é terminar algo e ter a certeza que poderia ter feito melhor, não é mesmo? Pois bem, me sinto assim toda vez que o leio.


Apenas mais um dia?


Era um sábado de Janeiro, e como na maioria dos dias desse mês, estava calor, apesar do relógio marcar 7 horas da manhã.  Ele acordara cedo dessa vez, mais cedo do que estava acostumado e já havia chegado ao bairro da Liberdade.
Tinha um compromisso às oito horas e não sabia como chegar ao local, foi chegando perto da primeira banda de jornal que viu e perguntou onde ficava a FECAP, a dona da banca lhe respondeu com um sorriso no rosto, sorriso esse que alegrou o momento.  Ele sabia como chegar, mas também sabia que estava muito cedo e por isso precisava gastar alguns minutos em algum lugar.  Nunca tinha reparado naquele café da esquina, mas gostou e entrou.
Era aconchegante, apenas a luz do sol da manhã iluminava o local tornando o meio escuro, o que dava a sensação de conforto.  Pediu um leite com chocolate e sentou-se numa mesa, deu um gole na bebida e admirou as fotos que estavam penduradas na parede, o som de uma música tocada apenas no piano invadia o lugar, o tom escuro dos móveis e o preto e branco das fotos, todos aqueles elementos tornaram o momento especial e ideal para reflexão.
Dentro de alguns minutos, estaria sentado numa carteira universitária fazendo mais um vestibular, digo mais um pois já havia feito outros, e na verdade, só estava ali porque não passara no que mais queria, foi bom assim.  Veio então a admiração pelo lugar, junto com uma inspiração que nunca sentiu antes, começou a escrever um livro em pensamento, daria o titulo de “Cafés de São Paulo”, foi mais ambicioso e mudou para “Cafés ao redor do mundo”, pensou se valeria a pena.  Pela experiência sim, mas café? Não era nem crítico nem especialista, por que escrever sobre cafés?
Percebeu que a admiração não era só pelo lugar, nem só pelo momento, mas também pela vida.   Muita coisa havia mudado e muita coisa ainda iria mudar, queria contar a todos, mesmo que todos já soubessem.  Olhou para a rua, que já estava agitada, os preparativos para a festa do ano novo Chinês estavam acelerados, lembrou que iria se apresentar mais tarde  o sorriu, logo retomou os pensamentos sobre a vida, era o que importava no momento.
Começou a fazer planos, pensou em coisas que não tinha pensado antes, viu as coisas de um jeito diferente e pensou: Eu amadureci.  Que peso tinha essa frase, sua família vivia dizendo que ele tinha uma cabeça melhor que os demais garotos da mesma idade, mas ele nunca se importou, dessa vez ele tinha reconhecido, e gostou do que sentiu.
Olhou para o relógio e viu que marcava quinze para às oito, despertou de seus pensamentos, era hora de dar um passo na vida.  Levantou-se da cadeira, saiu do estabelecimento, pois já havia pagado, mas fez questão de sorrir para quem estava no caixa, foi determinado e cumpriu sua missão.
Pensou no dia por muito tempo, pensa até hoje na verdade, pensa até em escrever um livro, não agora, nem amanhã, mas um dia quem sabe.  O fato é que sua vida mudou depois daquele dia, sorria mais, ria mais, vivia e não apenas existia.  Ele cresceu, ele mudou, ele tornou-se homem, e esse homem sou eu.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

E o começo?

Cá estou, criando coragem para começar um blog e tentar mantê-lo atualizado. Sabe? Já faz algum tempo que alguns apostam na minha criação, gostam dos meus textos e me encorajam a escrever um livro. Daí o nome do blog.
Vou compartilhar com vocês alguns textos já escritos, outros talvez eu escreva pensando em upar aqui. Nada muito compromissado, peço que não esperem atualizações semanais ou mensais, enfim, com data certa. Vai acontecer mesmo quando tiver que acontecer, assim como tudo na vida.
Bem-vindos e façam bom proveito.