Apenas mais um dia?
Era
um sábado de Janeiro, e como na maioria dos dias desse mês, estava calor,
apesar do relógio marcar 7 horas da manhã.
Ele acordara cedo dessa vez, mais cedo do que estava acostumado e já
havia chegado ao bairro da Liberdade.
Tinha
um compromisso às oito horas e não sabia como chegar ao local, foi chegando
perto da primeira banda de jornal que viu e perguntou onde ficava a FECAP, a
dona da banca lhe respondeu com um sorriso no rosto, sorriso esse que alegrou o
momento. Ele sabia como chegar, mas
também sabia que estava muito cedo e por isso precisava gastar alguns minutos
em algum lugar. Nunca tinha reparado
naquele café da esquina, mas gostou e entrou.
Era
aconchegante, apenas a luz do sol da manhã iluminava o local tornando o meio
escuro, o que dava a sensação de conforto.
Pediu um leite com chocolate e sentou-se numa mesa, deu um gole na
bebida e admirou as fotos que estavam penduradas na parede, o som de uma música
tocada apenas no piano invadia o lugar, o tom escuro dos móveis e o preto e
branco das fotos, todos aqueles elementos tornaram o momento especial e ideal
para reflexão.
Dentro
de alguns minutos, estaria sentado numa carteira universitária fazendo mais um
vestibular, digo mais um pois já havia feito outros, e na verdade, só estava
ali porque não passara no que mais queria, foi bom assim. Veio então a admiração pelo lugar, junto com
uma inspiração que nunca sentiu antes, começou a escrever um livro em
pensamento, daria o titulo de “Cafés de São Paulo”, foi mais ambicioso e mudou
para “Cafés ao redor do mundo”, pensou se valeria a pena. Pela experiência sim, mas café? Não era nem
crítico nem especialista, por que escrever sobre cafés?
Percebeu
que a admiração não era só pelo lugar, nem só pelo momento, mas também pela vida. Muita coisa havia mudado e muita coisa ainda
iria mudar, queria contar a todos, mesmo que todos já soubessem. Olhou para a rua, que já estava agitada, os
preparativos para a festa do ano novo Chinês estavam acelerados, lembrou que
iria se apresentar mais tarde o sorriu,
logo retomou os pensamentos sobre a vida, era o que importava no momento.
Começou
a fazer planos, pensou em coisas que não tinha pensado antes, viu as coisas de
um jeito diferente e pensou: Eu amadureci.
Que peso tinha essa frase, sua família vivia dizendo que ele tinha uma cabeça
melhor que os demais garotos da mesma idade, mas ele nunca se importou, dessa
vez ele tinha reconhecido, e gostou do que sentiu.
Olhou
para o relógio e viu que marcava quinze para às oito, despertou de seus
pensamentos, era hora de dar um passo na vida.
Levantou-se da cadeira, saiu do estabelecimento, pois já havia pagado,
mas fez questão de sorrir para quem estava no caixa, foi determinado e cumpriu
sua missão.
Pensou
no dia por muito tempo, pensa até hoje na verdade, pensa até em escrever um
livro, não agora, nem amanhã, mas um dia quem sabe. O fato é que sua vida mudou depois daquele
dia, sorria mais, ria mais, vivia e não apenas existia. Ele cresceu, ele mudou, ele tornou-se homem,
e esse homem sou eu.