quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sozinho

Certo dia perguntaram se eu não tinha medo de andar sozinho, principalmente porque chego tarde em casa, já é escuro e não passo pelas mais amigáveis ruas. Respondi que não. E de fato não tenho medo de andar sozinho, até prefiro. Não que eu prefira ser sozinho, mas prefiro proteger as pessoas de riscos desnecessários.

E vejamos, andar sozinho por aí não é de todo mal. Claro que existem situações que nada valem se não tivermos alguém ou alguéns para compartilhar, mas a maioria delas é melhor se for boa, e raramente coisa boas acontecem numa volta pra casa durante a escura madrugada de São Paulo.

Depois dessa resposta, a outra pergunta que veio na sequência foi: “e por que você não anda armado? Por precaução mesmo, vai que... a gente nunca acha que vá acontecer, mas uma hora, por descuido ou azar, acontece”.

E talvez a pessoa estivesse certa. Que mal poderia haver? Sozinho, quase indefeso e desarmado contra algo que, se viesse ao meu encontro, viria devidamente preparado. Lei da sobrevivência: ou eu ou ele. E numa madrugada calada que é ótima confidente, tudo que acontecesse ali seria nosso segredo. Não tinha nada a perder e tinha tudo a perder ao mesmo tempo.

 “Não vou andar armado, deixe que venha. Pode levar tudo, até o coração, mas por favor, não me machuque”.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Texto sem nome

Suspirei fundo, mas não foi porque você aconchegou a cabeça no meu peito enquanto estávamos deitados na cama. Não foi por que te olhei e me senti o homem mais feliz do mundo por estar vivendo aquele momento. Foi porque doeu, e dói, e vai continuar doendo. Dor aguda, que dura dias, não cicatriza e o corte aumenta a cada dia.

Hoje eu tive certeza. A dúvida que eu carreguei durante dias acabou. Hoje eu consigo olhar pra tudo, fazer um balanço das coisas e te agradecer. Não entendo a maioria das coisas, e talvez nunca vá entender, talvez eu nem precise.

Esse período todo, desde o começo até agora – que é o mais próximo do fim que eu já cheguei – serviu pra me fazer crescer, mudar, ver as coisas de outro jeito, viver diferente. E tem muito dedo seu nisso tudo.

Obrigado por nos dar mais uma chance, por ter me feito muito feliz nesse tempo todo. Por cada coisa simples, por cada gesto de carinho, cada beijo, cada abraço, cada vez que passou a mão no meu cabelo, cada vez que me confortou no seu colo, cada vez que fez eu sentir algo que eu nunca senti antes por ninguém. Obrigado por despertar em mim de novo coisas que você um dia despertou e eu deixei que adormecessem.

Não sei se isso é um adeus, não sei se estamos colocando um ponto final ou outra vírgula. Não sei de mais nada, e nem quero ter certeza das coisas agora, porque elas mudam, sempre mudam.


A única coisa que sei, é que como você eu nunca tive ninguém. E se bobear, nem vou ter.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sol de sexta

- Oi, te acordei né?
- Uhum.

Me derreto com essa sua voz de sono e esse dengo matinal, você não sabe o quanto.

-To indo aí então, beijo.
- Beijo.

Desliguei o telefone, levantei do banco e fui. Ouvindo a mesma playlist que ouço todas as vezes que vou, pelas mesmas ruas – até porque eu me perderia se fosse arriscar outro caminho. Cheguei.

Minha mensagens não estão chegando e lembro que você me pediu pra não tocar a campainha porque sempre faz muito barulho.

- To aqui.
- Já?
- Sim.
- Ok, to indo.

Parecia que era a primeira vez eu eu entrava por aquela porta, primeira vez que te via com aquela cara de quem acordou só por mim, parecia amor à primeira vista.

- Vem, to com sono ainda.

Fui. Você já com vários cobertores. Eu sentando na beira da cama e tirando o tênis. Um beijo na sua testa pra dizer bom dia, você aconchegando a cabeça no meu peito e segurando meus braços, ai ai.

- Tá frio lá fora?
- Ah, tá sol, mas na sombra o vento que bate é gelado.

Minha mão passeando pelas suas costas e fazendo carinho, meus dedos alisando seu rosto e depois fazendo cafuné. O sol das dez da manhã entrando pela janela, ficando menos intenso na cortina e deixando seu cabelo ainda mais dourado.

Meus olhos fechando sozinhos quando sua mão passava pelo meu rosto, meu sorriso disfarçado e de lado cada vez que sua mão percorria meus braços.

Ali, longe de todo o mal e protegido de todas as coisas ruins do mundo,  porque é assim que eu me sinto perto de você. Você dormiu e eu logo em seguida.

- Amor?
- Oi amor.
- Tenho que ir.

Tenho, mas nunca quis. 

domingo, 23 de junho de 2013

Quem é você?

“Oi, tudo bem? Tudo sim e você? Boa noite meu amor. Boa noite meu amor.” Foi assim, simples e natural o jeito como tudo aconteceu. Quem vai dizer que não?

O tempo passa, e entre idas e vindas, aqui fico eu, esperando por você que aparece de vez em quando. Às vezes fica um pouco, mas não demora muito, sempre acaba indo. Às vezes volta, mas até quando e por quê?

Quem é você que sempre foi assim pra mim? Que mesmo quando era certeza, restava um pouco de dúvida. Que ainda envolto em dúvidas, a certeza de que te amo é maior. Quem é você, que não me deixa saber se escondo minhas lágrimas e te mostro um falso sorriso. Quem é você que desperta essa dúvida em mim e por quê?

Quem é você que me deixa colocar as coisas em ordem, os papéis em cima da mesa, os cortes cicatrizarem. E por que sempre vem derrubar tudo no chão e fazer sangrar de novo? Por que depois que sangra você vai embora sem ao menos pegar um papel ou fazer um curativo?

Quem é você que eu não consigo parar de pensar e nem de me importar? Quem é você que me deixa desesperado quando não sei onde está e nem se está bem? Quem é você que não me deixa te esquecer? E por que eu não quero?

Quem é você que não vai voltar pra ser minha? Que diz que te faço bem como ninguém jamais fez, mas pelo que parece, ainda não é o suficiente. Por que eu te procuro onde sei que vou achar?

Por que me deixei abater mesmo sabendo como tudo iria acontecer e que deveria ser exatamente como foi? Por que a espinha ainda gela quando o celular vibra e acho que a mensagem é sua? Por que numa semana te chamo de amor e na outra não digo nem oi?

Quem sou eu, que nem sei quem sou e ainda me acho no direito de te perguntar quem é você? Por que todas essas perguntas se mesmo quando sei as respostas continuo agindo como se não soubesse?

terça-feira, 28 de maio de 2013

Um ano




De volta ao mesmo lugar onde tudo começou, pouco mais de um ano depois. A minha mesa está sendo usada por outra pessoam o lugar está bem movimentado – horário de almoço, era de se esperar. Os móveis ainda são os mesmo, a música tocada no piano ainda é o fundo, mas os quadros mudaram. O sol não entra pela janela como naquele dia. Pedi um café, e não um chocolate gelado como da primeira vez.

Muita coisa aconteceu em pouco mais de um ano. 2012 me trouxe muitas coisas boas, tirou algumas que trouxe e levou outras que não tinha o direito de levar. Entrei na faculdade, conheci novas pessoas, fiz ótimos amigos, ótimos professores. Consegui um estágio, amo o que faço, amo as pessoas que me rodeiam.

Conheci uma menina que me fez acreditar ser a certa. Me ensinou muita coisa, muita mesmo e não seria exagero dizer que ela foi um divisor de águas na minha vida. Acreditava ter achado o primeiro amor. Não duvido.

Me aproximei de algumas coisas que me faziam bem e me afastei de outras que também me faziam bem. Não de propósito, só não soube lidar, e talvez não quisesse saber. Me encontrei perdido muitas vezes durante esse tempo, pedindo socorro em algumas delas, rezando pra não ser encontrado nas outras. Só vagar por aí sem rumo ou perspectiva, sabe? Acho que às vezes sei, talvez não.

Achei amores, ganhei um e perdi logo em seguida. Tentei procurá-lo mesmo depois de perdê-lo e confesso que algumas vezes ainda tento achá-lo em outros corpos. Em vão, claro.

Perdi meu avô quando eu menos podia perder mais alguém. Nunca fomos muito próximos, mas sempre tinha a sensação de que ele poderia me ajudar, nem que fosse só pra me olhar e dizer o quanto eu era forte, pedir pra eu coçar as costas dele ou só ganhar na testa um beijo meu.

Ouvi muito essa coisa do “viver um dia de cada vez”, “relaxa, no final vai ficar tudo bem” e “seu sorriso é lindo, não esconde do mundo.” Acho que essas foram mesmo as coisas que mais ouvi nesse tempo.

Mudança define esse período que passou e vai definir mais alguns vários pela frente. Tudo sempre muda e sempre vai mudar, é isso que ensinam e eu teimo em aprender.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Se não fosse você


Me pego pensando nas coisas que vivi e como elas teriam sido se tivessem durado mais tempo, ou durassem até hoje. Não penso diferente sobre meus relacionamentos, e poxa, você é a mais recente, claro que penso muito em nós dois do que nas outras. As outras são só as outras, você é você.

E como seria se não fosse você? Bem, eu provavelmente não gostaria de chá branco com lichia, e nem conheceria aquela torta de frango da padaria em Sumaré. Eu não saberia o que é me preocupar em fazer um caminho com menos subidas ou escadas, e nem o que é querer pegar alguém no colo quando o joelho dela dói. Eu não saberia o que é deitar na grama do parque com uma camisa xadrez servindo de toalha, de olhos fechados, de mãos dadas, de rostos colados, só sentindo o seu calor e o vento que batia.

Eu não saberia como é a sensação de achar a pessoa certa – pelo menos é o que parecia ser, talvez seja e só não está sendo, vai saber. Eu não ia saber como é pensar em jogar tudo pro alto só pra poder estar junto de quem te faz bem, lutar pelo que acha justo e certo.

De resto seria eu. Cara fechada pra quem vê, mantendo a pose de forte, achando ser intocável, forte e dizendo pra todos que não sangra. Mas é inseguro, dramático, emotivo e impulsivo. Ainda bem que você passou por aqui pra fazer mudar.

Já falei que talvez as coisas tivessem sido melhores caso nunca tivesse te conhecido e amaldiçoei o dia em que você entrou por aquela porta – cabeça quente, te disse. O fato, menina, é que agora que tudo passou, que nos cruzamos e nem o olhar trocamos, que fazemos de tudo pra nem um “oi” soltar... Agora eu sinto falta até de sentir sua falta.

Eu não desistiria de nós, você não precisava nem ter pedido. Aliás, nem devia. Pedir pra não desistir de nós só me fez pensar que você também não desistiria. Pena pensar errado.

domingo, 24 de março de 2013

Minhas madrugadas foram feitas pra pensar

Eu venho errando há algum tempo. Venho tentando te encontrar em outros corpos, outros dias, outros cheiros, outros olhos. Tentando encontrar seu sorriso e seu beijo em outra boca. Seu jeito de se preocupar comigo e suas broncas em outras pessoas. Nunca achei.

Foi bom nunca ter achado, porque com certeza eu me apaixonaria e esse seria meu maior erro depois de ter deixado você partir. Não me apaixonaria por uma nova pessoa, continuaria apaixonado por partes suas em outros lugares. Não seria nada saudável pra alguém que tenta a todo custo te esquecer, né?

Foi bom tudo isso, tudo mesmo. Vai chegar em você que eu tô bem, que eu mudei, que eu não ando pelas mesmas ruas, não penso mais as mesmas coisas, não ouço mais as mesmas bandas – mas ainda escuto aquela música que tocou da primeira vez que eu estava indo pra sua casa. Vai chegar em você que o meu “pós você” é melhor que o meu “pré-você”, e talvez tenha dedo seu nisso.

Vai chegar em você que sinto falta do seu companheirismo, das nossas risadas, de olhar nos seus olhos e dizer que você é linda, só pra te ver ficando vermelha, sem graça e escondendo o rosto. Que eu sinto falta de escrever pra você.

Vai chegar em você que eu te quero bem apesar dos apesares, que me importo em saber se você está feliz e fico me sentindo mais impotente ainda quando sei que não e que também não posso fazer nada pra te ajudar. Às vezes eu nem sei de você, e na maioria das vezes isso é bom, mas tem outras que não, por isso os meus “tá bem?” piscando na tela do seu celular durante a madrugada.

Sinto falta do seu abraço. Lembra que ele já foi o melhor do mundo? Pois é, e tinha tudo pra continuar sendo até hoje, depois até mês que vem, e quem sabe pra sempre. Ele só deixou de ser porque precisei de outro qualquer quando soube que nunca mais teria o seu.

Desculpa o jeito ou a falta dele, só queria que você soubesse, sei lá, só pra saber.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Os dias não precisam ter fim

Os dias começam assim mesmo. Devagar, talvez sem muita empolgação, em marcha lenta, com sono. Mesmo quando temos alguns planos para o sol que nasce, sendo eles certos ou não. A expectativa de fazer as coisas certas sempre nos animam, nos dão uma injeção de ânimo e uma dose extra de energia.

E aquele dia tinha tudo para ser mais um desses outros dias quaisquer, apesar de coisas boas estarem prometidas para acontecerem naquela data. E ele confessa que as coisas não começaram a acontecer como o planejado. Primeiro um atraso de meia hora, depois o transporte público caótico de sua cidade, ela que não respondia e por conta disso, ficaram muito tempo sem se falar durante algumas horas, talvez o mais longo período até hoje, talvez o único que eles suportem.

E as coisas iam caminhando normalmente, como deveriam acontecer, até porque não é possível parar o tempo por causa de algo que não ocorreu como esperado. Mas quando a situação insiste em continuar monótona, algo sempre surge para espantar a rotina.

Ele estava esperando - muito por sinal -, tanto que a angústia até o assombrava por não saber onde ela estava. Pois bem, agora ela estava ali, onde ela deveria estar o tempo todo. Os dois indo na mesma direção, um ao encontro do outro. A cabeça dela repousou cansada em seu peito, ele a abraçou e sabia, nem que tenha sido por um breve minuto, que era o homem mais feliz e sortudo da história, e tinha certeza que ali ela estaria protegida de todo o mal que se atrevesse a perturbá-la.

Pequenas provocações, gestos de carinho - por mais estranhos que tivessem sido -, uma conversa, alguns risos bobos, dois sorrisos e olhares atravessados que aconteceram sem permissão. Foram o que fizeram aquele momento especial. Romântico, bobo, de criança, lindo, sincero, inesquecível. Ele não sabia o que tinha acontecido, nunca se sentiu tão envergonhado por uma coisa boa, nunca se sentiu tão desprotegido e vulnerável, mas não se importou de maneira alguma, pelo contrário, queria repetir a dose por mais quantas vezes fosse possível.

Os carinhos e as palavras doces continuaram. Tímidos e contidos, se misturando com algumas palavras trocadas em tom mais duro, mas sempre amigável, bobo, apaixonado. Brincadeiras que qualquer "adulto" condenaria como sendo de duas crianças imaturas, talvez fossem, quem sabe? Mas quem se importa? Não importava mais nada naquele momento, apenas o sorriso dela, e a satisfação dele em vê-la levemente irritada e gostando de tudo aquilo.

Em silêncio ele rezava pra que os minutos passassem devagar, que aqueles momento ficassem eternizados, que nada os interrompesse. Queriam contar pros amigos, pra família, pros netos. Queria gritar pro mundo aquela alegria que já não cabe mais dentro dele.

Num suspiro de coragem ele levantou. As pernas bambas, o frio na barriga, a voz engasgada que falharia se ela tivesse que ser usada. Ensaiou um pedido, que por vergonha lhe foi negado. Ele iria retornar ao seu lugar, ela a segurou pelo braço. Talvez ele soubesse que poderia acontecer agora, mas pra que pensar justo nessa hora? Os dois se viraram e logo os corpos estavam juntos, grudados, os braços cruzados entre eles.

Nada foi tão intenso como aquele aguardado momento. Os batimentos cardíacos subiram, o nervosismo os acompanhou, a vergonha foi deixada de lado junto com o pensamento. Ali, no meio daquela sala, longe de tudo que pudesse atrapalhar os dois.

Sem ar, com o coração na boca, trêmulo, e se sentindo a pessoa mais feliz do mundo. Foi assim que ele se descreveu. Nunca havia sentido nada parecido, descobriu o verdade significado de "intenso", de estar apaixonado, de querer fazer alguém bem e deixar que façam o mesmo.

Ficaram brincando por mais alguns minutos, os pés se tocavam como num balé, o momento foi poético. As palavras não precisavam sair das bocas, elas eram sentidas, eram ditas através dos olhares, através da sintonia dos dois.

Agora ela está em um canto da cidade e ele em outro. Sedentos por mais um encontro pra escreverem mais um capítulo dessa história que, os dois esperam, seja duradoura, seja sincera, que seja para sempre.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Do amor, ou da falta dele

Nunca escrevi sobre mim e deixei claro que era eu falando. Nesse vou contar uma história que aconteceu há uns meses atrás.

O momento era ótimo, as coisas iam muito bem, obrigado. Mas ainda assim, o que deveria me fazer dormir tranquilo, tirava ao menos quinze minutos do meu sono. Algumas dúvidas por tudo ser novo, estar dando certo e durando mais do que todas as outras vezes juntas. Algumas inseguranças por coisas que aconteceram e outras que aconteciam.

Fui pedir ajuda como sempre faço, dessa vez pra alguém que me inspirava muita confiança sem nem ao menos me conhecer há muito tempo. Um cara que sabe das coisas, que passa credibilidade e inspira confiança quando fala. Te conforta mesmo sem falar o que você quer ouvir.

Eu ainda me aventurando nessa coisa de escrever, ele experiente também nisso. Pediu pra que eu lesse um texto. Foi um daqueles textos que doem mas te fazem sorrir porque mostram a verdade, que te batem mas logo em seguida te fazem um cafuné. Que sussurram assim no teu ouvido antes do gongo tocar: “não vacila na guarda que é lona”.

Do amor

“Não existe investimento seguro. Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife seguro, sombrio, imóvel, sufocante ele irá mudar: não será quebrado, mas vai se tornar inquebrável, impenetrável, irredimível. O único lugar fora do Céu onde você pode se manter perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o Inferno”.

C. S. Lewis

Terminei de ler e ele foi logo me perguntando: “E aí, vai querer viver onde? No céu ou no inferno?” Titubeei porque o momento não ia me deixar agir diferente. Quis mesmo ver onde eu conseguia chegar e o provoquei dizendo que queria viver no umbral, ele logo retrucou e disse que o umbral e o inferno dariam no mesmo. Hesitei, mas disse que viveria no céu.

Acho que fiz a escolha certa. Dói quando as coisas que davam certo começam a dar errado, dói ainda mais quando os dois esquecem que antes de dar errado deu certo, e eles insistem em falar do errado, mesmo que tenha vindo bem depois. Dói enquanto o tratamento tiver que ser anormal pra não doer mais. Doer dói, mas estar apaixonado é se sujeitar mesmo a sentir dores.

Sair sem guarda-chuva sem medo de se molhar, pular sem medo de cair e se ralar, andar sem medo de tropeçar, sair de casa sem medo de se apaixonar. Ou talvez seja melhor esquecer o guarda-chuva torcendo pra chover, andar por terrenos diferentes imaginando que tropeçar vai te fazer aprender, sair de casa querendo mesmo se apaixonar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O tempo não parou pra mim, nem pra você

Eu sei que vai ser difícil te fazer acreditar em mim depois de tudo, principalmente porque dividi as dores com você quando tudo estava acontecendo. Acabei te vendo no meio do tiroteio, as balas vinham de todas as direções, e além de ter de se esquivar delas, você cuidava dos seus próprios ferimentos e ainda arrumava tempo pros meus.

Sei que você não me entende, não te culpo. Não mesmo, às vezes nem eu me entendo, sendo assim, nem posso te pedir pra me entender. Posso tentar te fazer me entender, podemos até tentar isso juntos.

Acho mesmo que fiquei mal acostumado. Você sempre presente, meio misteriosa, escondida nas suas dúvidas e anseios, mas nunca deixou de me ouvir. Nunca escondeu que algumas coisas que eu dizia te incomodavam, mas sempre me ouviu. Confesso que franzia a testa junto com as dúvidas que você trazia, junto com o policiamento que tinha de fazer pra não te magoar sem querer. Te entendia, te respeitava, mas de um jeito ou de outro, aquilo servia mais pra eu reclamar do que qualquer outra coisa.

Hoje sei menos ainda das coisas, sei menos ainda de você e das suas vontades, sei menos ainda da sua vida, do seu cheiro, da sua risada gostosa, por onde você anda e se está bem. Acho que no fim das contas eu me importo e me preocupo bem mais do que deveria e queria, e eu me sinto bem estranho tendo que admitir isso agora, mais ainda sabendo que você vai ler essas coisas todas.

Faz um tempo que não sei pra onde estou indo, nem se tenho mesmo um motivo pra ir, ou até mesmo se preciso. Faz um tempo que não sei o que quero da vida, que não sei o que as outras pessoas querem, e quando sei, não sei dizer se também quero o mesmo, nem se devia querer.

Não estou dizendo que está bom como está – talvez esteja. Talvez até tenha se tornado costume pensar em você e em como você fez bem cuidando de mim. Talvez eu nem saiba mesmo de nada como acho que não sei, e essa deve ser a alternativa mais correta.

Só estou pensando em você mais do que é saudável, você me faz um bem maior do que devia. Esses dias longes de você demoram mais a passar e eu me enfio em alguns becos tentando achar saídas, mas o resultado nunca vem. Você continua aí, fazendo o que eu não sei. Por vezes parece receptiva, outras nem tanto. Sei que são reflexos das suas dúvidas, as minhas também brigam com as minhas coragens, te entendo.

Talvez eu esteja exagerando quando digo que gosto de você, mas talvez não. E é exatamente esse o meu medo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Reage

Mesmo sabendo de tudo e tendo começado a assimilar você continua aí parado. Esperando o que? Que tudo volte a dar certo e que ninguém se lembre das coisas ruins que os trouxeram até aqui? Poderia até ser bom se isso acontecesse, pelo menos pra você. Só não esquece que essas coisas são feitas por duas pessoas, pra duas pessoas e que só elas podem fazer algo a respeito.

E tudo bem, tome o tempo que você precisar. É mesmo difícil aceitar que a pessoa que ia viver todos aqueles planos junto com você não está mais aqui. Mais difícil ainda porque os dois queriam, os planos nunca partiram de um lado só, sempre foram compartilhados e aceitos.

E aí a gente passa realmente a acreditar que nunca vai acontecer de novo, que se entregar do mesmo jeito não vai ser mais possível, que um dia a gente aprende. Ficamos com medo de sofrer de novo, porque essa dor é sempre assim, devastadora.

Mas me diz: você se arrepende? Mesmo que ela nunca tenha sentido o mesmo, que você não tenha significado metade do que ela significou pra você, que os momentos não sejam lembrados com o mesmo carinho, mesmo que o seu cheiro não mexa mais com ela como o dela mexe com você, mesmo que você ainda lembre com carinho depois de um longo tempo e ela não tenha usado metade desse período pra tocar a vida dela? Você se arrepende?

Não né? E você não se arrepende porque ainda tem algo aí dentro. Talvez ainda ache que pode acontecer algo, talvez ainda queira que algo aconteça, ou talvez só ainda esteja gostando dela. Mas passa amigo, passa sim. Te prometo.

Agora vai fazer um favor pros dois. Seca esse rosto, levanta da cama e tira essa sensação ruim de dentro do peito. Saudade vai bater, principalmente quando os momentos vividos vieram dar oi, mas passa. Você sabe que no final tudo fica bem, nem sempre do jeito que esperamos e que achamos ser o melhor, e talvez o que aconteça nem seja mesmo o melhor, – talvez a gente nunca saiba – mas acontece.

Guarde as coisas e os bons momentos naquela caixinha sua, aquela mesmo onde você guarda todas as outras. Deixa as ruins do lado de fora que uma hora o vento passa e leva, do mesmo jeito que ele trouxe, porque toda história tem um ponto final. Se cuida, o mundo ainda precisa de você.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fui andar

- Me perguntaram se você faz diferença na minha vida, disse que sim. Daí me perguntaram se eu faço na sua, fiquei calado.

- Claro que você faz.

Às vezes acho que complico tudo, por vezes tenho certeza. Sei lá, só não imaginei que seria assim, sempre achei que as pessoas que se gostassem ficariam juntas e resolveriam seus problemas juntos. Pois bem, agora entendi que os problemas delas, que são só delas, devem ser resolvidos isoladamente. Mesmo que venham com esse papo de que amar é tratar o problema de quem se ama como se fosse seu. Talvez seja, talvez. Mas a outra pessoa precisa deixar e precisa ser possível. Estar por perto fazendo o bem que você sempre fez já é ajuda, caso você não consiga fazer mais.

Então eu me vejo aqui, fazendo as coisas erradas. Meu papel é fazer tudo que sempre fiz e nada mais: fazer bem pras pessoas, fazê-las se sentirem bem. Principalmente quem também me faz bem, principalmente você.

Paro e me pergunto o que estou fazendo com a minha vida. Sei que estou errando com todos. Deixei pequenas besteiras me afetarem. Hoje chamo de besteira o que já me fez muita importância, e quem sabe ainda façam, mas a gente sempre aprende a mudar, seja lá qual for o motivo, principalmente se o motivo for bom.

Sempre reclamei da falta de pessoas no mundo que lutassem pelo que acreditam e acham certo, estaria errando mais uma vez se deixasse escapar essa chance que tenho de ser uma delas. Talvez agora seja tarde pra retomar as coisas como elas nunca deveriam deixar de ter sido, talvez eu tenha causado tudo isso sozinho, talvez nem faça mais diferença pra você, e se não fizer, talvez seja culpa minha.

Pelo menos encontrei alguns dos erros, e de tanto apanhar, descobri como não errar mais, só me falta tentar, e vou. As coisas podem tomar um rumo diferente do que eu imagino que elas vão tomar, mas ainda assim vou continuar fazendo o que eu acho certo, por mais que o certo mude durante o caminho.

Nos últimos dias deixei de te fazer bem, te afastei de mim, parei de transmitir segurança, te larguei mesmo dizendo que não ia, não te protegi das coisas ruins, talvez porque eu tenha feito essas coisas serem ruins. Nos últimos dias me abandonei, me perdi, me destruí um pouco. Deixei de ser eu.

Lembrei da bússola que você me deu, me guiei por ela e pelas estrelas, voltei. Hoje estou aqui, mais preparado e certo do que eu preciso fazer, te dizendo que não vou mais partir a menos que você peça. Sei que se as coisas não estavam fáceis antes, ficarão menos agora, mas estou disposto a tentar.

Todo o tempo e espaço que precisarmos, todo o apoio e cumplicidade que sempre tivemos, todas as coisas boas que sabemos despertar no outro, todo o carinho que existe entre nós. Sempre te disse que desistir não era opção, não mudei de ideia.