quarta-feira, 27 de junho de 2012

E quanto ao final?

Era uma noite fria, típica de um final de outono e quase começa de inverno. Lá estava nosso herói, sentado no último assento do lado esquerdo do ônibus, sem se importar muito com o barulho das portas que se fazia necessário com o entra e sai dos passageiros. Nada muito reflexivo lhe vinha em mente apenas observava a conhecida paisagem que tem o poder de sempre surpreender, afinal, sempre muda. Tudo muda.

Ele subiu tanto que seu corpo se descolou do banco, o ônibus havia passado por uma lombada em alta velocidade, e quem está no fundo sempre sofre mais com essas situações. Foi um chacoalhão, lembrou que buscava inspiração para algo, andava meio distraído ultimamente, sem viver muitas emoções ou fazer coisas novas. Despertou do seu quase transe e passou a observar através da janela de forma mais crítica. O que havia acontecido mais cedo? Bem, as pessoas sempre nos surpreendem, seja de forma positiva ou não. Lembrou-se de uma cena passada pela manhã, não apostaria dez centavos na bondade daquele homem no metrô, pois bem, esse mesmo homem deu seu lugar a uma senhora. Depois de ver aquela cena, percebeu como errou, errou em tê-lo julgado e em julgá-lo errado.  Mais ainda lhe restou um sorriso que apareceu quando se deu conta que foi surpreendido, que essa não foi a primeira vez e não seria a última.

Havia achado inspiração. Reconheceu que a culpa não era da vida que estava lhe pregando peças, não era a vilã da história, ele é que não estava vendo as coisas de uma forma correta, não estava sabendo aproveitar cada momento, visão ou gesto. Tinha esquecido como as pequenas coisas da vida são as mais belas e às vezes as mais importantes.
Chegou em casa, admirou seu tempo e foi grato, passar por aquela calçada havia se tornado tão banal. Lembrou-se dos tempos de infância, as risadas com gosto de Tubaína e cheiro de salgadinho sabor cebola, o sangue no asfalto durante o futebol de rua, pois alguém sempre chutava o chão, os restos das bexigas cheias de água que estouravam e levavam embora o calor das tardes de Julho.

Abriu a porta e viu uma folha, logo pegou um lápis e se sentou em uma cadeira. Já que estava se sentindo tão vivo, por que não tentar a sorte escrevendo algo? Sua mão segurava firma aquele pedaço de madeira enquanto o grafite escorria por toda aquela imensidão branca. As riscas da folha ditavam os passos daqueles “ballet”, um giro aqui, outro ali, “vamos para a linha abaixo”, “desvie dessa lágrima ou vai borrar”, “um pouco de borracha aqui”.

Foi escrevendo sem se importar com o tempo, sem se importar com o cansaço ou com a fome, Ele estava criando e nada podia impedi-lo, há muito tempo esperava por um momento como aquele. A mão já cansada deixou o lápis cair, restos de borracha pela mesa e pó de grafite na palma de sua mão. Um texto nasceu.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Talvez seja incansável

Você não cansa de carregar o mundo nas costas todos os dias? É sério, não precisa adotar essa postura forte pra sempre, evitar fraquejar, tentar mostrar que é forte, intocável e que não tem seus defeitos, todos temos. Afinal você também é feito de carne e osso.

Esse negócio que você tem de se preocupar com todos ao seu redor, com a paz mundial e com um passarinho que quebrou a asa. No fundo eu até queria ser mais assim, sabia? É que não da pra vestir uma capa e sair voando pra socorrer alguém todas as vezes que algo der errado, por mais que esteja atento, não é sempre que você vai conseguir evitar uma tragédia. Na verdade as pessoas precisam disso, de quebrar a cara de vez em quando, de caminhar com as próprias pernas e de cair porque não havia ninguém para segurá-las.

Esse seu lance de guardar seus problemas no bolso (os poucos que admite ter) e ir cuidar dos problemas de quem precisa, eu acho honroso. Só não esquece que se te baterem você sangra, e que seu sangue também é vermelho.

Mas olha, você ainda pode passar Merthiolate no joelho ralado das pessoas, elas vão precisar de alguém que ouça as histórias todas. Sem julgamento, sem “eu te avisei”, sem nenhuma dessas coisas que sabemos ser verdade e que doem, sem nenhuma dessas coisas que não se fazem necessárias no momento. Apenas um estoque de conselhos, alguns abraços, um lenço pra secar essas lágrimas que vão caindo e um “relaxa, tá tudo bem, tudo vai ficar bem”. Bom, você sabe mais sobre isso do que eu.

Só me promete se importar um pouco mais com os seus problemas tá? Eles podem até ser pequenos, mas podem ficar maiores se você ignorá-los. Se cuida, o mundo precisa de mais heróis como você.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Eu precisava te dizer

Tenho essa minha cara de mal e carrego uma certa fama de “cara frio que não se apaixona por ninguém”. Sei lá, sempre achei besteira esse tal de amor, vejo casais brigando por aí, depois eles terminam e sofrem, às vezes voltam e depois sofrem mais um pouco. Essa coisa não é pra mim.

Pra que arrumar alguém pra ter que dar satisfação, ficar grudado, dar bom dia, boa tarde, boa noite e todos os outros “bons” que temos por ai? Pra que correr o risco de sair machucado de um relacionamento? Ser livre é bem mais vantajoso, sem obrigações.

Mas aí você apareceu, né garota? E de vez em quando eu me pergunto como você fez tudo isso. Como me transformou no que sou hoje?

Lá estava você, como quem não quer nada. Jogando conversa fora junto com suas amigas, rindo à toa. E eu estava lá, tentando entender o que estava sentindo. Se pra uma pessoa normal já é difícil entender essa coisa de amor à primeira vista, imagine pra mim, um cara meio fechado e nada carinhoso.

Nos conhecemos, tivemos nosso primeiro encontro (sempre achei clichê falar assim, “encontro”) e tudo ia bem. Comecei a entender esse negócio que os outros falam, que sentimos borboletas no estômago quando estamos perto de quem gostamos, e vou confessar, ou minhas borboletas são bem grandes, ou elas usam asa-delta.

Bem, obrigado por entrar na minha vida, por me fazer acreditar num sentimento mais forte, por me fazer o homem mais feliz do mundo e permitir que eu tente lhe fazer o mesmo. Desculpa o meu jeito, mas pra um cara que não acreditava em amor, até que eu to me saindo bem. Aliás, o cara que não acreditava no amor escreveu essas coisas todas ai em cima, por que foi o jeito mais fácil que ele encontrou pra dizer que te ama.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sem falsas juras de amor, por favor

Por favor, tome cuidado.  Quando alguém confia em você, raramente pensa se o que foi dito é verdade ou mentira, só acredita sem medir as consequências.  Bom, pelo menos eu sou assim, e duvido muito que seja o único.
Tudo bem, talvez eu tenha culpa e talvez ela seja maior que a sua.  Culpa de ter sido rápido demais, de ter tido medo de te perder, culpa de não dar um sorriso mais bonito naquela tarde, culpa de ter me permitido, culpa de ter conhecido.  Mas ao mesmo tempo, acho que são coisas que acontecem pois tem que acontecer, ou talvez que aconteça por vontade de um ser superior.

O começo não foi fácil, o primeiro “oi” foi custoso, o primeiro abraço nem se fala.  E quem disse que o fim não seria pior.  Sempre é.  Você foi até legal. Foi mudando, meio que dando sinais de que o fim estava próximo, eu percebi (qualquer um perceberia), mas preferi não pensar, não encarar os fatos, dizem que a esperança é a última que morre.
No meio disso tudo, trocamos várias juras de amor, parece que de nada valeram.  A primeira vez que ouvi seu “eu te amo”? Ótimo, fui dar uma volta no Olimpo e voltei, disse que também te amava é claro, mas depois pensei que poderíamos ter ido com mais calma. Tá vendo? Muita culpa é minha.

Mas espera! O nosso fim ainda não teve fim, pelo menos aqui no papel.  Até ele foi conturbado, estranho como tudo que aconteceu entre nós, uma linha telefônica e cada um de um lado, “eu não quero mais” chegando aos meus ouvidos, sendo processado, confirmando tudo que eu já sabia, e mesmo assim senti um frio na barriga quando você disse mais cedo que precisávamos conversar.  Eu tentei nos salvar, juro.  Mas já era tarde, até era noite, e você tinha prova no outro dia, “boa noite”, e eu continuo me preocupando com você.

O quarto ficou ainda mais escuro, mesmo com a TV ligada e mudando o jogo de cores das paredes.  Minha cabeça uma bagunça, queria dormir e não conseguia, queria ouvir músicas que me lembrassem você, não valia o esforço.  Acho que pra você foi mais fácil, parecia calma, suave e decidida, me pediu tantas desculpas que parecia alguém se desculpando por não poder mais fazer um favor.

Se você nunca sentiu algo, como disse que sentiu, se eu nunca signifiquei nada, como acho que não se suas juras foram verdadeiras, pouco importa agora. Façamos assim: você finge que se importa e eu finjo que acredito.