sábado, 21 de março de 2015

Ela

Você pode ler esse texto ouvindo Matchbox Twenty - She's so mean]

Moleque de tudo, exalando testosterona por cada poro do seu corpo. Vivendo sua melhor fase no que diz respeito a relacionamentos. Autoestima lá em cima porque beijou três meninas na última festa e se gaba até hoje para os amigos “Caralho, viram aquela loira que eu peguei? Puta que o pariu”.

Atirando pra todos os lados, acostumado a ouvir “não” e com suas táticas pra ouvir um sim. Pra ele não importam os meios, só o fim. Usa o mesmo xaveco com todas. Copia, cola e espera. Joga a rede e espera que caiam. Se sente bem com isso, afinal “tá pegando bem”. Não precisa ser nenhum gênio na arte da conquista, dizer coisas bonitas ou ter os mesmos gostos. Era só dizer o que elas queriam ouvir e ele sabia disso.

Ela era só mais uma, não era? Adiciona no Facebook, ela aceita, joga aquele mesmo papo furado que usou ontem, ela cai. Golaço.

 Errado, campeão. Com ela não cola esse papinho que você usa com todas as meninas. Ela é mulher. Decidida, sabe o que quer, como quer e onde quer chegar. E mesmo que no fundo não saiba, acaba fazendo todos acreditarem que sim.

Dez minutos de conversa com ela e você não aguentaria. Teve que pensar três vezes antes de responder a terceira mensagem depois do “oi, tudo bem?”. E mesmo quando encontrou uma resposta não demorou um minuto pra que ficasse sem reação novamente.

É, criança... parece que a maré virou. Seu xaveco pode até funcionar com uma ou outra menina, com as “presas mais fáceis”. As que estão passando por momento difíceis, não conseguem se amar e nem se sentir valorizadas. Desonesto e menos trabalhoso, assim você fez suas presas.

Ela truca. Você não diz pra descer. Não tem jogo. E mesmo que tiver não sabe o que ela tem, não sabe se é blefe. Se você conseguisse manter meia hora de conversa com ela, iria se surpreender pelo menos umas cinco vezes com coisas diferentes.

Viu aquele sorriso? Ele é lindo. Traz malícia, sinceridade, bondade, alegria e histórias. Aqueles olhos viram muitas coisas e foram lavados com lágrimas quando foi necessário. Aquelas linhas de expressão? De tanto sorrir e que ótimo que seja assim. Aquela olheira? Noite passada não foi tranquila, ficou até tarde resolvendo coisas do serviço, da faculdade e ainda passou a madrugada ajudando a amiga com problemas pessoais.

Sabe aquele jeito meigo? Ela é mesmo, também, quando acha que tem que ser. Mas é muito mais do que isso. Sabe aquele padrão de menina que você tá acostumado? Pode esquecer, ela vai à contramão de tudo que você já conheceu até hoje. Sabe aquele coração? Já foi machucado e cicatriza. Calejou e tem boas histórias.

Ali meu amigo, pode esquecer, você num guenta. É mulher. Independente. Não vai deixar que homem nenhum diga o que ela deve fazer e como deve ser portar. Não tem tempo nem espaço pra moleque em sua vida. Quer alguém que a ajude, não alguém pra ela carregar.

Conselho de amigo? Nem se envolve. Você não vai saber lidar. Ela é complexa, intrigante, surpreende sempre. Não quer ser e nem será domada. Quem se atrever que arque com as consequências e esteja ciente de que quem manda é ela.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Maré

[Você pode ler esse texto ouvindo A cada vento – Emicida ft. Rael]

Asfalto cor de âmbar por causa da luz dos postes, úmido por culpa da chuva de meia hora atrás. Noite nublada, sozinha, sem uma alma na rua. A lua não se mostra por causa das nuvens, mas a gente sabe que está lá velando pelos que estão sob ela.

O dia foi longo, tudo que quer fazer é chegar em casa pra poder tirar o tênis, as meias, encostar a sola morna do pé no chão frio e se sentir vivo de novo. No fone alguma música que deveria provocá-lo, mas que só serve de fundo porque os pensamentos voam aleatórios.

É quarta-feira, ainda ou já? A semana não foi generosa e ele quer a sexta logo. Ingênuo. Como se algo fosse melhorar só por ser sexta. Covarde. Só queria fugir dos problemas por dois dias. Perdeu o brilho, a gana, a vontade. Só vaga, nem anda, nem corre. Pelo menos não fica parado.

Já viveu dias piores, muito piores, é verdade, e ninguém o tinha visto assim. Parece que até a desgraça o motivava, mas agora... nada. Não sorri e também não chora. Existe, não vive. Não faz falta e não faz diferença. Não esboça reação, nem parece que está nesse mundo.

Tinha mil planos. Pra si, pro mundo e pra quem o quisesse acompanhar. De repente tudo sumiu e ele se deixou vencer. Pobre homem. Sem luz.

Outros até tentaram ajudar. “Pegue meu sonho”, eles diziam. “Queria ser engenheiro”, “E eu médico”, “Astronauta”, “Bombeiro”. Em vão. Sonhar por ele todos iam, mas ninguém os realizaria. Isso compete a ele e somente e ele.

Enquanto não quer nada, fica onde está. Simples assim.

Esse texto poderia ser sobre todas as coisas, mas foi só um jeito de te pedir pra que não pare nunca. Não precisa remar sempre. Tudo bem velejar um pouco, principalmente quando o braço cansa ou quando o mar está agitado, na direção contrária. Algumas vezes não vale a fadiga naquele momento.

Mas faça algo. Se movimente, saia do lugar, nem que seja um passo pra trás pra poder dar dois adiante.

“Se quer saber o sentido da vida: pra frente”.