quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Engasgado

Eu queria muito dizer que te amo e não estar mentindo, assim como eu queria ouvir você dizendo que me ama sem se preocupar em estar enganando alguém. Talvez por isso tenha acabado.

A verdade é que nenhum de nós jamais soube dizer um dia se era mesmo amor, aliás, não estou certo de que já sentimos isso alguma vez, por um alguém qualquer.

Não sei quanto a você, mas “te amar” sempre foi como mergulhar em uma piscina vazia rezando para que a chuva caísse, foi como estar vendado numa sala escura, esvaziando o pente de uma PKP Pecheneg e torcendo pra não acertar ninguém.

Mas lembra de todos aqueles momentos que passamos juntos? É claro que você lembra. Pois é, tentei recriá-los. E sabe? Eles foram feitos para dois, no caso, nós dois. E não é que eu queira reviver nenhum passado, muito menos cutucar uma ferida que ainda esteja cicatrizando, mas eu quero muito ver você, muito.
Pensei que aquelas doses que tomei no bar em que nos conhecemos serviriam pra me fazer te esquecer, ledo engano. Você está lá todas as vezes, nunca pessoalmente, mas ainda assim consigo te sentir, talvez mais do que se estivesse olhando no fundo dos seus olhos. Além de não te esquecer, elas me ajudam a criar coragem pra vir atrás de você e contar tudo que se passa aqui dentro.

Agora anda e abre a porta como você fazia. Não quero buzinar e acordar seus vizinhos, e está muito frio pra ficar parado na frente da sua porta, torcendo pra que você abra, nem que for pra fechar logo em seguida.

Me deixa entrar, a gente senta pra conversar madrugada a fora e eu mesmo preparo o café se você quiser. Eu espero que você tenha notado que eu continuo “te amando”, e agora prometo que estou disposto a te amar, sem medo nenhum. Eu nunca fui o cara certo pra você, mas estou longe de ser o errado.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não uso capa

Eu ando sozinho por uma rua que desconheço o nome, raramente sei onde estou indo e até prefiro que seja assim, Não trago comigo quem eu amo nem quem não amo, é sempre mais seguro que eles fiquem onde estão.

Tenho síndrome de super-homem e acho que sou intocável, indestrutível. Não aguentaria ver alguém machucado por menor que fosse o trauma, não aguento a sensação de impotência que tenho quando chego tarde demais ou quando estou na hora certa e não posso fazer nada. Isso me corrói de dentro pra fora. Sei que sangraria por todos os poros se tivesse culpa pelo sofrimento de alguém, muito por isso ando só.

Minha sombra insiste em me acompanhar. Só permito quando ainda é dia, - pois a noite é sempre perigosa – e ainda assim dou condições: que ela ande sempre atrás de mim, assim posso protegê-la. Se ela insiste na teimosia e fica ao meu lado, mudo de rota e escolho uma mais segura.

Sei que alguns heróis tiveram seus escudeiros – e acho inclusive que ambos merecem essa menção honrosa -, mas não sou um deles. Não quero ser chamado de herói, aceito alguns me chamando de louco e os mais próximos de egoísta, mas não herói. Não mereço, não faço nada demais, aliás, faço apenas o que acho que devo: minha obrigação.

Não tenho certeza se isso se chama coragem, como alguns dizem. Acho que está mais pra covardia, egoísmo e medo. Egoísmo de não entender que as pessoas também me amam e não concordam com o meu comportamento. Covardia por correr de alguns desafios que encontraria e medo de perder alguém e me culpar pelo resto dos meus dias na Terra.
Desculpem-me por ser assim, mas é isso que sou agora. Juro estar onde estiverem, mas, por favor, não me sigam. Juro aparecer sempre que precisarem. Desculpem-me se por vezes demoro a ouvir alguns chamados, é que não posso olhar apenas para um me esquecer dos demais. Talvez você não tenha nem me chamado e talvez nem me queira por perto.

Eu estarei lá. Mesmo sem saber voar, ter uma identidade secreta, uma cabine telefônica e sem usar uma capa.