Certo dia perguntaram se eu não tinha
medo de andar sozinho, principalmente porque chego tarde em casa, já é escuro e
não passo pelas mais amigáveis ruas. Respondi que não. E de fato não tenho medo
de andar sozinho, até prefiro. Não que eu prefira ser sozinho, mas prefiro proteger as pessoas de riscos desnecessários.
E vejamos, andar sozinho por aí
não é de todo mal. Claro que existem situações que nada valem se não tivermos
alguém ou alguéns para compartilhar, mas a maioria delas é melhor se for boa, e
raramente coisa boas acontecem numa volta pra casa durante a escura madrugada
de São Paulo.
Depois dessa resposta, a outra
pergunta que veio na sequência foi: “e por que você não anda armado? Por precaução
mesmo, vai que... a gente nunca acha que vá acontecer, mas uma hora, por
descuido ou azar, acontece”.
E talvez a pessoa estivesse
certa. Que mal poderia haver? Sozinho, quase indefeso e desarmado contra algo
que, se viesse ao meu encontro, viria devidamente preparado. Lei da
sobrevivência: ou eu ou ele. E numa madrugada calada que é ótima confidente,
tudo que acontecesse ali seria nosso segredo. Não tinha nada a perder e tinha
tudo a perder ao mesmo tempo.
“Não vou andar armado, deixe que venha. Pode
levar tudo, até o coração, mas por favor, não me machuque”.