quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Até a próxima estação

[Você pode ler esse texto ouvindo Passenger - Let Her Go]

Este texto é sobre uma das muitas paixões no metrô que acontecem todos os dias, e como na maioria delas, acabou num desembarque.

Eu já estava lá quando ela entrou, e a única coisa que consegui ver foi um olho cor de mel. Sim, um. Porque todo o resto se escondia atrás de outra passageira.

Notei algumas mechas de cabelo que balançavam na altura do ombro quando o trem freava. Reparei no sorriso que se formou, quando uma senhora perdeu o equilíbrio e se segurou no braço dela, onde permaneceu durante toda a viagem.

E que sorriso lindo. No canto da boca no início, mas tomando conta do rosto inteiro depois, junto com covinhas.

Um roteiro de cinema digno de Oscar já se formava na minha cabeça. A sorte a faria descer numa estação antes da minha e eu iria atrás: "oi, desculpa o jeito, mas qual seu nome? Eu nunca fiz isso antes porque nunca achei alguém que, mesmo sem saber, me desse coragem pra fazer. Eu vou me atrasar pra minha reunião, mas tudo vai valer a pena se eu virar as costas sabendo seu telefone" e quando estivesse indo embora "ah, e no caso de não terem dito hoje: você é linda".

Eu estava decidido a descer na mesma estação, ir atrás dela e gaguejar tudo que planejei. Mas a medida que as estações iam passando, mais gente ia entrando e mais longe de mim ela ia ficando.

Eu a perdi de vista e só fui descobrir em que estação ela desceu quando o sinal sonoro indicava o fechamento das portas. Já não era mais em tempo, não pro tamanho da minha coragem.

Eu não sei o nome dela, tampouco o telefone e nem se vou encontrá-la algum dia. No entanto, aprendi mais uma vez que a vida é sim sobre se planejar, e mais ainda sobre estar preparado pro plano falhar. E, se quiser, improvise.

Pra todos aqueles que duvidam: existe amor em SP.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Carta pra ela

[você pode ler esse texto ouvindo Vance Joy - Riptide]


Oi, estava fazendo um balanço da minha vida nos últimos meses e decidi que precisava te escrever pra contar algumas coisas. Eu vou te entender caso queira rasgar o papel agora e atear fogo, tá tudo bem.

Se existe um culpado nessa história toda, esse culpado sou eu. O maior culpado, o maior prejudicado e o que mais gosta de ser fazer de vítima, repetindo como um mantra “desculpa, é que passou alguém aqui antes e levou tudo”. E olha, pode até ser que sim, mas isso nunca foi motivo pra nada, mas eu decidi que seria a minha desculpa.

Por mais que a gente mude sem perceber, uma hora a gente percebe. E quando percebe, dá pra dizer se o que nos tornamos agrada ou não, e se não agrada a gente muda, certo? Certo, a diferença é que eu não gostei, mas também não comecei a mudar ainda e estou pagando um preço alto por isso.

Pode até ser bom ficar na defensiva e tocar o “foda-se” toda vez que alguma coisa faz o meu coração bater mais forte. Envolvo-me menos, me machuco menos, e até agora, sempre consegui escapar antes que fosse tarde. Mas é esse também o problema.

Não me envolvo mais, já nem sei qual foi a última vez que meu coração bateu forte por um motivo que eu me permitisse gostar, e borboletas no estômago? Parece que foram extintas.

Você é incrível. Seu sorriso continua sendo lindo e eu nunca disse isso sem realmente achar, por mais que soubesse o que você queria ouvir. A parte boa disso tudo, é que você me fez perceber que a ainda existem pessoas pelas quais eu posso me apaixonar e que a vida vai ser bonita e amanhã eu volto a sorrir.

Eu sinto muito por ter te conhecido na época errada. Por mim mesmo, porque não fui capaz de ser bom pra você e preferi te ver voando pra longe a subindo no altar. É o preço que pago toda vez que escolho ser uma pessoa que não gosto.

Mas até algum dia, quem sabe. Não porque você deva voltar, nem porque eu vou atrás de você pra recuperar o tempo perdido, mas sim porque a vida sempre me surpreende. Ela tirou meu teto e me deu as estrelas, mas eu preferi fechar os olhos e voltar a dormir.