[Você pode ler esse texto ouvindo Passenger - Let Her Go]
Este texto é sobre uma das muitas paixões no metrô que acontecem todos os
dias, e como na maioria delas, acabou num desembarque.
Eu já estava lá quando ela entrou, e a única coisa que consegui ver foi um
olho cor de mel. Sim, um. Porque todo o resto se escondia atrás de outra
passageira.
Notei algumas mechas de cabelo que balançavam na altura do ombro quando o
trem freava. Reparei no sorriso que se formou, quando uma senhora perdeu o
equilíbrio e se segurou no braço dela, onde permaneceu durante toda a viagem.
E que sorriso lindo. No canto da boca no início, mas tomando conta do rosto
inteiro depois, junto com covinhas.
Um roteiro de cinema digno de Oscar já se formava na minha cabeça. A sorte a
faria descer numa estação antes da minha e eu iria atrás: "oi, desculpa o
jeito, mas qual seu nome? Eu nunca fiz isso antes porque nunca achei alguém
que, mesmo sem saber, me desse coragem pra fazer. Eu vou me atrasar pra minha
reunião, mas tudo vai valer a pena se eu virar as costas sabendo seu
telefone" e quando estivesse indo embora "ah, e no caso de não terem
dito hoje: você é linda".
Eu estava decidido a descer na mesma estação, ir atrás dela e gaguejar tudo
que planejei. Mas a medida que as estações iam passando, mais gente ia entrando
e mais longe de mim ela ia ficando.
Eu a perdi de vista e só fui descobrir em que estação ela desceu quando o
sinal sonoro indicava o fechamento das portas. Já não era mais em tempo, não
pro tamanho da minha coragem.
Eu não sei o nome dela, tampouco o telefone e nem se vou encontrá-la algum
dia. No entanto, aprendi mais uma vez que a vida é sim sobre se planejar, e
mais ainda sobre estar preparado pro plano falhar. E, se quiser, improvise.
Pra todos aqueles que duvidam: existe amor em SP.