Não é que eu sinta saudades dela, sabe? É algo a respeito de
tudo que vivemos, é disso que eu sinto saudade, dos momentos juntos. Coisas que
não voltam.
Faz muito tempo que não nos falamos, acho até que a última
vez foi quando terminamos. Ou quando ela me ligou avisando que precisava
resgatar umas coisas que estavam lá em casa. Por pouco não atendo. Geralmente
não atendo número que não está na agenda.
Não sei como vai, o que anda fazendo da vida, se voltou a
falar com o pai ou continua brigada com ele. Diria que é uma pena, sabe? É
inevitável nutrir carinho pelas pessoas que conhecemos, principalmente por
aquelas que já foram muito presentes na nossa vida. Ou que já foram nossa vida.
Acho que até sinto falta da ressaca do termino. De por algum
motivo a espinha gelar quando uma mensagem chegava no celular e pudesse ser
ela. De escutar nossas músicas olhando pro nada, tentando imitar uma cena de
filme e tentando se distrair com a graça da cena só pra não pensarem outras
coisas.
Ela se foi e levou consigo um pedaço que me pertencia. Levou
alguns anos de dedicação que tive por nós, me levou boas risadas e até
lágrimas. Da até vontade de me desculpar com quem chega depois. “Ei, desculpa,
é que alguém chegou antes e levou o estoque inteiro. Estou repondo e entro em
contato assim que você puder retornar”, mas não dava pra ser assim.
Qualquer dia eu refaço nossa rota e fico emotivo o bastante
pra ensaiar uma despretensiosa mensagem no seu celular perguntando como vai a
vida. Assim, em respeito aos velhos tempos, só pra saciar meu ego. Rezando pra
razão chegar enquanto eu digito, lembrando que se teu silêncio me incomoda, tua
indiferença há de me machucar. Aí eu aperto a tecla de envio, mas seguro.
Resisto e desisto. Apago letra por letra da mensagem já pronta.
É difícil aceitar que talvez você nunca tivesse existido e
que aquilo que eu amava era uma projeção minha. É difícil olhar pro futuro
quando tudo que eu mais queria era trocar todos os meus dias seguintes por um
ontem.
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